- Detalhes
- Categoria: Noticias
“Nós queremos garantir o direito de existir. Queremos o reconhecimento e a titulação dos nossos territórios para garantir a existência das comunidades”. O depoimento de Naldo Braga Correia, integrante do Movimento Quilombola do Maranhão (Moquibom), ecoou alto na Tenda Rio Guaporé, onde se discutiu o eixo “Esperança”, na quarta-feira (15), durante o IV Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), realizado em Porto Velho, Rondônia.
(Equipe de Comunicação João Zinclar - IV Congresso Nacional da CPT
Imagem: Rafael Oliveira)
Em sua fala, Correia destacou a importância das comunidades se organizarem para conquistar os direitos que lhes cabem. “Em outros tempos, nós só recebíamos migalhas de organizações e órgãos públicos responsáveis por acompanhar os quilombolas. Hoje, com a criação do Moquibom, nós mesmos somos os protagonistas de nossas batalhas”, disse.
O resgate da cultura e da identidade quilombola proporcionou às famílias maior poder de mobilização para pressionar o poder público. “Com os grupos unidos, nós já fechamos estradas e ocupamos a sede do Incra no Maranhão. Esses atos trouxeram alguns avanços para os quilombos”, relembrou.
Nesse mesmo caminho segue um grupo de trabalhadores e trabalhadoras que compõem a Articulação Camponesa de Luta pela Terra e Defesa dos Territórios do Tocantins. Segundo Reginaldo Lima Viana, um dos coordenadores dessa articulação, mais de 18 comunidades se juntaram para fortalecer as lutas em comum. “Muitas vezes, nossas reivindicações são as mesmas, ainda que em regiões diferentes. É muito difícil avançar na luta pela terra se caminharmos individualmente”, argumentou.
As mobilizações organizadas pela Articulação ocasionaram audiências públicas com órgãos como o Incra, Ministério Público Federal, Defensoria Pública Agrária e Programa Terra Legal. “Quando fechamos a BR-153, juntamente com os indígenas, conseguimos alguns resultados satisfatórios. A mesma coisa aconteceu quando ocupamos a sede do Incra de Araguaína (TO). Portanto, no meu modo de ver, o caminho para nosso fortalecimento é trabalhar o diálogo entre as comunidades”, finalizou.
- Detalhes
- Categoria: Noticias
Empurrados pelos exemplos de Memória e Rebeldia, vistos nos primeiros dias do IV Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), camponeses e camponesas, indígenas, quilombolas e agentes pastorais demonstraram na manhã desta quinta-feira (16) os diversos sinais de Esperança presentes na luta dos povos da terra e das águas.
(Equipe de Comunicação João Zinclar - IV Congresso Nacional da CPT
Imagem: Douglas Mansur)
Em uma espontânea e harmoniosa sintonia, os conteúdos dos grupos das sete tendas se complementaram nas apresentações. Com muita força, destacou-se como principais sinais de esperança a valorização da força das mulheres, a capacidade dos jovens e crianças, o reconhecimento dos saberes milenares, a certeza de que agroecologia e sementes crioulas são ferramentas para a resistência das comunidades, entre outros elementos.
O grupo da Tenda Rio Machado disse acreditar que “formação, conquista, trabalho de base, organização, comunidades tradicionais, reserva extrativista, resistência, persistência, defesa dos povos das florestas, fraternidade e ocupação” são importantes símbolos de esperança no campo.
Em um momento místico, o Credo das Sementes foi rezado pelos integrantes da Tenda Rio Madeira: “Creio na semente criada por Deus e guardada por camponeses em todo o mundo [...] creio na semente plantada na terra livre de transgênicos e agrotóxicos [...] creio nas crianças que são sementes humanas de um futuro melhor”.
Mas no fim, quem emocionou e surpreendeu a Plenária foram três crianças, que fazem parte dos “Amiguinhos do Cerrado”, experiência também apresentada ontem. Um dos pequenos, vestido de onça pintada, correu em meio aos congressistas, subiu ao palco, urrou, engatinhou... demonstrou toda energia digna do felino. Outras duas crianças leram um cartinha feita por elas próprias, clamando pela preservação do Cerrado:
“Somos os Amiguinhos do Cerrado. Somos frutos desta terra tão querida. Estou aqui para pedir à população que preserve nosso Cerrado. O Cerrado grita por socorro! Até quando o Cerrado vai aguentar tanta maldade? Tanta destruição? Se não cuidarmos agora, no futuro tudo será um grande deserto.
Cadê a onça pintada? O lobo guará? A arara azul? Quase não vejo mais tamanduá. E a ema, as seriemas? Será que eles só vão aparecer nas fotos antigas? Somos crianças e ainda temos muito que viver. Mas o que a humanidade está deixando para nós? Neste congresso queremos pedir: ajude a nós, os Amiguinhos do Cerrado, a defender e preservar nosso Cerrado!”.
- Detalhes
- Categoria: Noticias
Durante a quarta-feira, 15, os participantes do IV Congresso Nacional da CPT expressaram, na Fila do Povo, o que entendem como Rebeldia e como ela se expressa em seus cotidianos. Na ocasião, foram realizadas críticas profundas ao Estado e suas variadas instâncias - poderes Executivo, Judiciário, polícia e exército -, que mostraram o esgotamento na crença das vias institucionais. Os depoimentos também reafirmaram a necessidade do espírito de Rebeldia para a luta pela conquista e permanência na terra e no território. Confira alguns trechos da fila do povo:
(Equipe de Comunicação João Zinclar - IV Congresso Nacional da CPT
Imagem: Joka Madruga)
"Falar de Rebeldia é falar da retomada do território de Benfica, de Charco e Cruzeiro. Já fazemos essa rebeldia na retomada dos nossos territórios. É importante dizer que não invadimos terra, nós ocupamos e retomamos os territórios que nos foram roubados". Naildo Braga - Santa helena, Maranhão, membro do Movimento dos Quilombolas do Maranhão (Moquibom)
"A maior Rebeldia nossa é ocupar as terras do latifúndio. Se temos a terra, temos cidadania. Quando perdemos a terra, perdemos a dignidade e a vida. Rebeldia é estar nas lutas. E ainda somos chamados de sem lei, por isso, nosso maior inimigo também é, além do latifúndio, o Judiciário". João Luiz - CPT Paraíba
"A Terra é sagrada e é um presente de Deus pra nós. Sem terra não conseguimos nada. A gente não se alimenta, não tem educação, não tem saúde. A gente não é gente. Então, precisamos continuar apontando a luta pela reforma agrária. 'Ocupar, resistir e produzir' precisa continuar sendo o nosso lema". Creuza Teles - Comunidade Quilombola do Timbó - Garanhuns, Pernambuco
"Na luta, a gente tem que persistir e unir forças pra alcançar nossos objetivos, daí nasceu o Moquibom. Cada dia que passa, a nossa Rebeldia aumenta, o nosso povo se une e, junto com a CPT, nós vamos alcançar um grande final, uma nova esperança". Maria das Neves Ramos Reis - Serrão do Maranhão, MA
"Somos estrangeiros dentro do nosso próprio território. Dizem que eu não existo mais, mas se eu estou aqui, como não existo? Somos os verdadeiros dessa terra, mas ainda continuamos sendo massacrados. Por muitos anos o Estado disse que nós não existíamos mais, mas nós existimos!". Liderança indígena de Rondônia
"Temos que cobrar do Incra. Os conflitos que vêm acontecendo é por conta do Incra. O papel do Incra é vistoriar a terra, o da Funai é demarcar terra dos indígenas. E porque eles não cumprem esse papel? Se não cumprem com o papel, tão lá por quê? Nas ocupações somos mortos, agredidos, as lideranças são vistas como ladrões e baderneiros, mas estamos lutando por nossos direitos. Sou ameaçada, mas eu digo: 'Sou eu que me deito tarde, sou eu que me acordo cedo, sou eu que vivo jurada, de jura não tenho medo". Jucélia Pereira Santos - Acampada no município de Camacã, Bahia
"Quero trazer a Rebeldia dos povos indígenas representada por um povo, um povo que hoje, na história do nosso país, revela pra nós a grande força da rebeldia: o povo Guarani kaiowá, do Mato Grosso do Sul. Viva o povo Guarani kaiowá! Um povo da terra, um povo que tinha terra, mas hoje é um povo sem terra. Fora o agronegócio! Fora o latifúndio! Demarcação de terras já! Devolução dos territórios para os indígenas e quilombolas já!". Emília Altini - Conselho Indigenista Missionário de Rondônia (Cimi)
"Temos que ter mais ocupações no nosso estado de Alagoas. As usinas estão todas falindo, temos que aproveitar a oportunidade... Que bom seria se todos estivessem juntos, não ter divisão, todos juntos dando as mãos". Pedro da Silva Santana - Trabalhador de Alagoas
"Rebelde é o Governo que temos hoje. Se ele agisse conforme é preciso agir, não precisava, pra nós adquirir o nosso pedaço de terra, ser rebelde. Se a gente entra numa área que é pública e devoluta eles dizem que a gente rouba. Estou sendo rebelde por causa desse governo. Digo para os meus companheiros que esse é um direito nosso e nós devemos conquistar". Edimilson - Anapú, Pará
- Detalhes
- Categoria: Noticias
Um dos momentos mais significativos dos Congressos da Comissão Pastoral da Terra (CPT) é a Celebração dos Mártires, quando os participantes fazem a memória daqueles e daquelas que tombaram na luta.
(Equipe de Comunicação João Zinclar - IV Congresso Nacional da CPT
Imagem: Joka Madruga)
Na noite de hoje (16), os quase mil participantes do IV Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT) irão para as margens do Rio Madeira, na Comunidade Santo Antônio, em Porto Velho (RO), fazendo a memória daqueles e daquelas que tiveram suas vidas ceifadas pela violência no campo brasileiro. A Celebração dos Mártires terá início às 18h00, no cemitério da Comunidade. Após um momento de reflexão e animação dos congressistas, que seguirão em caminhada em direção à Igreja de Santo Antônio.
Essa Celebração é aberta a toda a população de Porto Velho (RO).
Após atravessar a estrada de ferro abandonada Madeira-Mamoré, os congressistas e demais participantes da Celebração serão chamados a contemplar o rio Madeira e ouvir as histórias de alguns desses lutadores e lutadoras que doaram suas vidas pela causa do povo da terra, das águas e das florestas.
Estarão presentes na grande celebração os bispos Dom Enemésio Lazzaris, de Balsas (MA) e presidente da CPT; Dom André de Witte, de Ruy Barbosa (MA), vice presidente da CPT e Dom Benedito Araujo, bispo de Guajará Mirim e administrador apostólico da diocese de Porto Velho (RO), Dom Nicolau, da Igreja Ortodoxa Grega de São Paulo, entre outros religiosos e representantes de várias Igrejas.
Uma história de violência
Historicamente a ocupação da terra no Brasil foi sempre acompanhada de grande violência contra as comunidades estabelecidas e contra os que apoiaram a luta dos trabalhadores em defesa de seus direitos e de seus territórios.
Este ano marca o 30º aniversário do assassinato do Pe. Ezequiel Ramin, morto por apoiar as lutas dos trabalhadores em Rondônia e o 20º do Massacre de Corumbiara, que vitimou nove trabalhadores, inclusive uma menina de sete anos, na fazenda Santa Elina, também em Rondônia.
São, também, dez anos do assassinato de Irmã Dorothy Stang, religiosa norte-americana, assassinada em Anapu (PA), por defender os PDS, Projetos de Desenvolvimento Sustentável, em que se aliava a produção camponesa com a defesa do meio ambiente; 30 anos do assassinato do sindicalista Nativo da Natividade, em Carmo do Rio Verde (GO), morto por liderar os trabalhadores que se contrapunham à tentativa de expulsão da terra por parte dos fazendeiros, e de João Canuto, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria (PA). Os filhos de Canuto foram assassinados cinco anos depois, em 1990. A Celebração dos Mártires irá lembrar esses e tantos outros lutadores e lutadoras que deram a vida na defesa do direito da terra para todos e todas.
Nos últimos 30 anos, o Centro de Documentação da CPT Dom Tomás Balduino, que publica desde 1985, anualmente, o relatório Conflitos no Campo Brasil, registrou 29.609 ocorrências de conflitos em que houve assassinato de 1.612 trabalhadores e trabalhadoras, lideranças, apoiadores da luta e comunidades tradicionais.
Mais informações:
Cristiane Passos (assessoria de comunicação) – (69) 9368-1171
Renata Garcia (assessoria de comunicação) – (69) 9912-1847
Acesse todas as informações do IV Congresso da CPT aqui
Fotografias no Facebook da CPT: Comissão Pastoral da Terra (CPT) – favor citar o crédito das fotos
@cptnacional