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O espírito de rebeldia das comunidades camponesas tomou conta e incendiou a plenária do Congresso da CPT, realizada na manhã desta quarta-feira (15/07). Na ocasião, foram realizadas a partilha e síntese das reflexões sobre as diversas experiências de rebeldias camponesas em curso no país e que foram debatidas nas tendas na tarde de ontem (15/07).
"Vim trazer fogo a Terra, e como gostaria que já estivesse acesso" (Lucas 12, 49)
(Equipe de Comunicação João Zinclar - IV Congresso Nacional da CPT / Imagens: Joka Madruga)
"Já chega de tanto sofrer, já chega de tanto esperar. A luta vai ser tão difícil, na lei ou na marra nós vamos ganhar"; "Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com os quilombos não assanha os guerreiros"; "Rebeldia necessária pra fazer reforma agrária". "Quando entrar naquela terra, não vamos sair, nosso lema é ocupar, resistir e produzir"; "E diga ao povo que avance!" "Juventude que ousa lutar constrói um Brasil popular!". Essas e outras palavras de ordem entoaram o início do terceiro dia do IV Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra, realizado na Amazônia, cidade de Porto Velho/RO.
Comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, assentados e acampados da reforma agrária, pequenos agricultores, presentes no Congresso, reproduziram na plenária verdadeiras cenas de enfrentamento que passam cotidianamente em seus territórios. Bandeiras, instrumentos de trabalho, como foice e enxada, tambores, música, dança - os instrumentos símbolos de rebeldia das populações do campo - foram convocados para fazer frente àqueles que insistem em oprimi-las. Entre eles capital especulativo financeiro, os latifundiários, o Estado, o poder judiciário, as empresas de transgênicos e transnacionais do agronegócio e seus agrotóxicos, as mineradoras, as barragens e outros grandes projetos do capital mundial e a ausência de escolas de educação do campo.
A partir das discussões e das apresentações realizadas, as comunidades reafirmaram a necessidade de fortalecer o espírito da rebeldia para a conquista de suas lutas. Também apontaram como elemento central a necessidade de construção de mecanismos eficazes de construção de unidade dos povos. "As lutas são locais, mas também são nacionais e internacionais. O inimigo é o mesmo", relataram à Plenária. A importância da participação da juventude e o fortalecimento do trabalho de base, de maneira mais intensificada e criativa, também foram destacados pelas comunidades fatores determinantes que impulsionam processos de superação das "barreiras e guilhões" que atingem as populações do campo.
"A rebeldia se apresenta como prática, a partir da construção de liberdade, a partir de uma educação libertadora e as tendas apresentaram, de forma muito expressiva, uma unidade que se reflete nas bases", ressaltaram os relatores das experiências de rebeldia. "Cantar no escuro não é uma novidade para os povos do campo. É uma tradição. Por isso, a memória dos que cantaram no escuro tem muito a nos dizer sobre a rebeldia e as lutas dos povos neste caminho para a libertação", ressaltaram os relatores das tendas.
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Em defesa dos territórios tradicionais, Antenor, do povo indígena Karitiana, de Rondônia, compartilhou suas experiências com cerca de 85 congressistas que participavam da Tenda do Rio Guaporé, um dos espaços de debate e apresentação das experiências dos participantes do IV Congresso Nacional da CPT.
(Equipe de Comunicação João Zinclar - IV Congresso Nacional da CPT
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Dona Josefa da Silva estava cercada de gente curiosa. Muitas perguntas lhe eram feitas. O sorriso largo não saia de seu rosto. Ela estava torrando farinha d'água, tradicional aqui em Rondônia, por isso o alvoroço ao seu redor. Uma Casa de Farinha foi construída, nas dependências Universidade Federal de Rondônia (Unir), especialmente para o IV Congresso Nacional da CPT.
(Equipe de Comunicação João Zinclar - IV Congresso Nacional da CPT
Imagem: Douglas Mansur)
Josefa mora no Assentamento Joana d'Arc, no município de Cruzeiro do Sul, no Acre. Na terrinha dela tem mandioca brava, que é usada para a produção da farinha. Perguntada se tem tempo que ela mexe com farinha, a resposta vem logo. "Faz muitos anos. Desde quando eu entendo por gente", diz.
Era hora de almoço. Muita gente estava ao redor do tacho, onde o produto era torrado. Já queriam experimentar. Simpática, dona Josefa explica que a farinha ainda demoraria duas horas para ficar pronta. "Duas horas com o fogo baixo. Não pode colocar muita lenha senão queima". Enquanto isso, muitas pessoas pediam para tirar foto manuseando a pá - colher de madeira usada para mexer a farinha. "Claro", respondia. "Se quiserem me ajudar podem vir", dizia Josefa, sorrindo.
A assentada explica, enquanto mexe o grande tacho, que a mandioca usada ali é conhecida como "amarelinha". Alguém pergunta: "Tem para vender?". "A gente tem muita roça, mas agora não tem para vender", diz Josefa.
Ao longo da conversa, a trabalhadora conta que após a mandioca ser arrancada, ela fica três dias de molho em uma vasilha com água. Após isso, vai para um saco para ser prensada. Depois, essa massa é peneirada algumas vezes, até que os caroços maiores sejam retirados. Por fim, é só torrar, processo que Josefa estava a fazer.
Bom, a farinha que Josefa e as colegas torraram deve ser usada nas Cozinhas do Congresso. A programação da Casa de Farinha ainda tem produção de açúcar mascavo e compostagem, além, claro, do caldinho de cana.
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Expressão popular, sabedoria camponesa, criatividade com as palavras, versos, estrofes, refrões... Na manhã desta terça-feira (14), trabalhadores e trabalhadoras, agentes pastorais e integrantes de movimentos sociais utilizaram das poesias para apresentarem os relatos reais da luta camponesa que agitaram o dia de ontem no IV Congresso Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que acontece entre os dias 12 e 17 de julho, em Porto Velho, Rondônia.
(Equipe de Comunicação João Zinclar - IV Congresso Nacional da CPT
Imagens: Joka Madruga)
Nas vozes de homens e mulheres, jovens e adultos, as cerca de mil pessoas presentes assistiram e ouviram atentamente cada palavra, cada movimento de expressão vindos do palco. “Convocados e convocadas pela memória subversiva do evangelho, a manhã desta terça foi marcada pela forte emoção que tomou conta de todos os congressistas. Foi a história de Jesus crucificado e reencarnado contada pelas diversas comunidades camponesas através de diferentes expressões populares, do nosso jeito de ser CPT: músicas, poesias, parábolas, metáforas”, destacou Nancy Cardoso, agente da CPT Bahia e pastora metodista.
Uma apresentação de teatro emocionou os congressistas. A peça fazia memória ao martírio de Sebastião Rosa da Paz, o Tião da Paz, camponês e sindicalista da região de Uruaçu, Goiás, assassinado a mando do latifúndio por conta de seu comprometimento com a luta pela terra. “Isso conta a história antes de nós, retrata a história que hoje somos nós e mostra a história que vai continuar”, complementou.
Logo abaixo, leia todas as poesias que foram recitadas durante as apresentações desta terça:
Tenda Rio Mamoré
História de resistência
Conto a vocês três histórias de resistência
Gleba Cascata; caldeirão contestado
E pra ninguém dizer que estou enganado
Apresento agora três beatos
João Maria, Ibiapina e Dionízio
Que na luta pela terra prometida
Organizaram em procissão
Todo um povo descalço no chão
Pela pedagogia do exemplo
Enfrentaram bala, ferro e fogo
Na defesa de um mundo novo
Com igualdade, fartura e pão
A aliança operária-camponesa é o caminho
Revolução, camaradas, não se faz sozinho
De indignação é nossa memória
É com rebeldia, radicalizando
Que construímos a história
Os senhores do estado logo se apresentaram
Com massacres, tomadas de terras e expulsão
E com toda perversão, miséria e destruição
Pra Cascata Mato Grosso, Contestado Paraná e Ceará do Caldeirão
A vida em comunidade quase desapareceu
Até Padre Cicero do Agreste percebeu
Mas a utopia na vida não terminou
Caldeirão sobrevive, Cascata ainda resiste
E Contestado ninguém esqueceu
O Estado mostrou para que veio
Assim cumpriu sua missão
Para os senhores do latifúndio
E pro povo nem um metro de chão
A aliança operária-camponesa é o caminho
Revolução, camaradas, não se faz sozinho
De indignação é nossa memória
É com rebeldia, radicalizando
Que construímos a história
Da tenda Rio Mamoré
Uma conclusão por aqui surgiu
Opressão, violência e injustiça
Do Estado sempre partiu
O conluio no tempo se fez
E pra dizer que não é embriaguez
Nossa lei é do modo burguês
A democracia no Brasil já faliu
Modelo que o camponês não se incluiu
Mas o povo quer mesmo exercer o poder
Para participação um dia fazer
A aliança operária-camponesa é o caminho
Revolução, camaradas, não se faz sozinho
De indignação é nossa memória
É com rebeldia, radicalizando
Que construímos a história
Escrito durante o IV Congresso da CPT, por autor não identificado
Tenda Rio Guaporé
Memória, confiança e esperança
Recordamos nossas lutas, numa roda em mutirão
Vimos três experiências de lutas na contramão
Eram lutas coletivas envolvendo muita gente e várias instituições
Cochichamos sobre as lutas, refletimos a situação
Demos passos importantes no processo em construção
Elegemos o Governo prá mudar a situação, mas isso não aconteceu
Apesar de coisas boas, o povo quer muito mais.
Vive meio insatisfeito querendo outros avanços, o Bem Viver para todos os cidadãos e cidadãs.
Sabemos que a coisa anda meio complicada
Se o povo não acordar e nas ruas se juntar
Pode ser que, o que conquistamos vem a se esfarelar.
Mas a luta nos provoca a nunca desanimar
Por isso, rememoramos para recomeçar
Olhamos o retrovisor, recordamos nossas lutas, nossa gente que acreditaram e acreditam que esse mundo pode muito melhorar. Não vamos desanimar, trabalho de base já.
Memorizando, rebeldiando, com esperança e confiança para o mundo melhorar.
Reinaldo Barberine, agente da CPT Minas Gerais
Só a luta faz valer
Quem tá cansado dê licença do caminho
Quem acredita dê as mãos e vamos embora
Pois quem tropeça no primeiro desatino
É pouca força na construção dessa história.
Não adianta inventar outros caminhos
Porque jamais vão conseguir nos convencer
Capitalismo nunca foi de quem trabalha
Nossos direitos só a luta faz valer
Capitalismo nunca foi de quem trabalha
Nossos direitos só a luta faz valer.
Canção de Zé Pinto, recitada e interpretada por Edileia Oliveira, agente da CPT Espírito Santo
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