Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Mais de 20 mil marcham por igualdade, autonomia e liberdade. Em protesto que parou a Avenida Paulista (SP), feministas se uniram a estudantes e movimentos sociais para dizer não a todas as formas de opressão. Ao lado do combate à violência, “Fora Bush!” foi uma das bandeiras principais do ato.

Bia Barbosa – Carta Maior

SÃO PAULO – Sempre no dia 8 de março, as mulheres brasileiras ocupam as ruas do país com suas bandeiras de luta. As manifestações articulam diversos temas, como a mercantilização do corpo e da vida das mulheres; o combate à violência; a luta pela legalização do aborto; pela valorização do salário mínimo. Todos os anos, o objetivo é sensibilizar a população e os demais movimentos organizados que nenhuma sociedade será justa e democrática se não eliminar a opressão de gênero. Este ano, no entanto, a ocasião para demonstrar a amplitude da luta das mulheres não poderia ser melhor: a coincidência com a visita de George W. Bush ao país levou milhares de feministas a dizer não ao imperialismo estadunidense, à política neoliberal defendida pelo governo americano e à dominação dos povos. Em São Paulo, pelo menos 20 mil pessoas se reuniram na manifestação que tomou conta da Avenida Paulista. Com o lema “Feministas em luta para mudar o mundo: por igualdade, autonomia e liberdade”, e vindas de diversas cidades do interior do estado, as mulheres caminharam sob um calor intenso, com bandeiras e flores em punho. “O 8 de Março é um dia de luta para as mulheres há mais de uma década. É fortemente anti- neoliberal, anticapitalista, com uma visão bastante crítica da globalização. A vinda de Bush para o Brasil só reforçou este posicionamento de mais de 10 anos, e vários movimentos se somaram nesta luta”, conta Jacira Mello, presidente do Instituto Patrícia Galvão. “Apesar de parte dos movimentos terem proposto uma fusão dos atos, achamos importante manter o 8 de Março como uma mobilização das mulheres. No final, foi um diálogo frutífero, porque permitiu um maior entendimento da amplitude da luta das mulheres”, acredita. Durante o protesto, as mulheres brasileiras prestaram solidariedade a todas as que são vítimas das guerras patrocinadas e apoiadas pelo governo Bush. De acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, em todo o mundo, as ameaças e ataques, o risco de ficarem no meio de confrontações violentas e a perda de estruturas e serviços vitais levam milhares de mulheres a deixarem suas casas em áreas convulsionadas por conflitos armados. Muitas vezes, elas se vêem assumindo novas funções, tornando-se responsáveis pela família sem ter o apoio familiar e da comunidade. Além da luta pela sobrevivência, enfrentam o risco de expor sua saúde, se sujeitarem a violências sexuais e outras formas de agressão. “Por isso somos solidárias às mulheres do Haiti, do Iraque, da Palestina, a todas aquelas que sofrem opressões. No Brasil, nosso povo também sofre a ação do imperialismo, que é o irmão mais velho do machismo. Por isso lutamos contra a guerra, queremos um outro mundo”, disse Sonia Leite, do Fórum de Mulheres Negras de São Paulo. Do alto do carro de som, as MCs Meire e Lidsoul – Simeire Domingues e Lidiane Reis, respectivamente – cantaram um rap pela paz e contra a opressão das mulheres. Elas vieram de São José dos Campos, no interior do estado, somente para participar do ato. Para ambas, o hip hop é sinônimo de uma liberdade de expressão que as mulheres precisam reivindicar para conquistar a verdadeira igualdade. “Se a gente se calar, não vamos nunca conseguir combater a opressão. Pro isso é preciso dizer às mulheres para irem às delegacias, cobrar que se puna quem bate nas mulheres”, disse MC Lidsoul. “A união das mulheres contra todas as formas de violência não deveria acontecer só no 8 de Março, uma vez ao ano. Todos os dias tem mulheres sendo espancadas. O hip-hop é uma forma de denunciar isso”, completou Meire MC. Mulheres contra o agronegócio Depois de realizarem uma série de ações pelo país nesta quarta-feira (7), as mulheres da Via Campesina também marcaram presença no ato na Avenida Paulista. Carregando bandeiras do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pedaços de cana, elas protestaram contra o agronegócio e a cooperação bilateral que os presidentes Bush e Lula negociarão nesta sexta acerca do aumento da produção do etanol. “Historicamente, a cana sempre serviu para a manutenção do colonialismo no Brasil. Isso acontece mais uma vez agora. Por isso, ontem ocupamos uma das maiores usinas de cana do país. Tarefa cumprida, em nome das mulheres em defesa da vida e contra o agronegócio”, afirmou Rejiane de Lima, do MST-SP, numa alusão à campanha da Via Campesina. Já em Pernambuco, depois de um ato na Associação de Avicultores (AVIC) contra a liberação do milho transgênico, as mulheres da Via Campesina foram vítimas da violência policial. Elas seguiam em passeata na Avenida Caxanguá, no Recife, quando homens do movimento, que ajudavam na organização da marcha, foram agredidos pela polícia. Três deles foram presos. Os militantes mobilizaram-se para controlar a agressão e manter a calma, mas não houve resultado. Diversas mulheres ficaram feridas. Na avaliação da organização Terra da Direitos, as mulheres pernambucanas continuam sendo desrespeitadas e agredidas. “Enquanto o governo divulga campanha para acabar com a violência contra a mulher, de outro lado a polícia espanca manifestantes”, afirmou em nota a entidade. No início de fevereiro, o governador Eduardo Campos junto à Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, assinou termo de adesão ao Plano Nacional de Políticas para Mulheres, prevendo o enfrentamento à violência contra a mulher. Pernambuco é um dos estados que mais tem registro de violência à mulher. “Por isso não podemos deixar de lado a luta cotidiana das mulheres. Unir bandeiras no 8 de Março é fundamental, mas depois o Bush vai embora e as mulheres continuam a serem espancadas. Acredito que a manifestação de hoje mostrou que é possível caminhar juntos”, avalia Nilza Iraci, do Geledés Instituto da Mulher Negra. “Não vamos derrotar o conservadorismo, o imperalismo e a direita se não acabarmos com a violência contra a mulher. É uma questão que tem a ver com a estruturação deste sistema, que é capitalista e patriarcal”, concluiu Miram Nobre, da Marcha Mundial das Mulheres.

 

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