Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

ENTREVISTA- A prática da monocultura da cana-de-açúcar, que implica na devastação da floresta, já ocupa 5% dos 40% de terras agricultáveis na Região Nordeste do Brasil. As usinas exigem em média, que cada trabalhador corte de 12 a 15 toneladas de cana por dia. Este forte ritmo de trabalho causa inúmeros problemas de saúde como tonturas e desmaio, podendo até causar a morte. Além disto, esta situação degradante os expõe à violência. De 1995 até 2001, em Pernambuco, foram assassinados 14 trabalhadores rurais, mais de 40 foram torturados e cerca de 230 foram presos. A Zona da Mata pernambucana, onde predomina a monocultura da cana-de-açúcar, tem alguns dos piores indicadores sociais e econômicos do mundo e estima-se que já foram expulsas mais de 40 mil famílias de camponeses da região. Para saber mais sobre a situação dos canavieiros e os prejuízos que esta prática trouxe ao Estado de Pernambuco, a Agência Notícias do Planalto, conversou com Maria de Oliveira, Superintendente do Instituto Nacional de Colonização e da Reforma Agrária (Incra) pernambucano. Ouça agora a entrevista. Agência Notícias do Planalto: Quais os empecilhos causados por práticas como a monocultura da cana-de-açúcar para o processo de reforma agrária no estado? Maria de Oliveira: O Estado do Pernambuco é divido praticamente em três territórios: A Zona da Mata o Agreste e o Sertão. Na Zona da Mata a reforma agrária não consegue avançar pela forma concentradora que existe nesta região através da monocultura da cana. A monocultura da cana é fortemente excludente, no modelo que vem sendo desenvolvido ao longo dos anos, onde nós acabamos vivendo um período de emprego por quatro meses e outro de desemprego durante oito meses. A concentração desta riqueza fica nas mãos de pouquíssimos, além do forte processo de crime ambiental que esta prática ocasionou ao longo do tempo. ANP: E qual a situação dos trabalhadores rurais nas zonas canavieiras? MO: Nós temos uma estatística colocada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) dos assassinatos e maus tratos das pessoas nas zonas canavieiras. Nós já formulamos e entregamos denúncias à Comissão Nacional de Direitos Humanos que é responsável pelos estudos de trabalho escravo e trabalho infantil no país. Assim como também entregamos no Ministério do Trabalho, em Brasília, denúncias documental e fotográfica para que estes órgãos tivessem condições de fazer um levantamento mais aprofundado desta situação. É uma relação de trabalho degradante a da zona canavieira. Hoje este quadro tenta melhorar, porém nas denúncias de junho deste ano, a Pastoral da Terra fez uma publicação e colocou alguns dados provados deste trabalho degradante, inclusive através de filmes. Mesmo assim nós compreendemos que este é um trabalho que ainda não foi superado aqui no Estado de Pernambuco. ANP: Por que o Estado encontra dificuldade em apurar e punir estas denúncias? MO: Pelo grau de pobreza, de assassinato e violência, em territórios onde o próprio poder do Estado não entra, porque o processo de criminalidade não deixa. Neste contexto ocorre uma situação de inteiro descontrole do poder de Estado. Talvez um descuido muito grande com áreas como os municípios de Jaboatão dos Guararapes e Ipojuca. No diagnóstico nacional estas cidades estão entre as quatro de maior incidência de mortes no país, onde o poder do estado não pode entrar, porque a criminalidade não permite. Onde a criminalidade fala mais alto que o poder do Estado, a sociedade com certeza está em situação altamente fragilizada. É onde nós temos grande parte das usinas, inclusive em territórios da União. É um quadro que está merecendo uma decisão mais forte e radical do governo. ANP: Quais as piores conseqüências da monocultura da cana-de-açúcar na região? MO: A degradação humana é a pior de todas. Na realidade esta é uma região que desconhece a legislação dos direitos humanos. O trabalho é fortemente degradante e além de degradante ele ainda consegue ser uma exclusão muito forte no ponto de vista da alimentação, da moradia e da área da saúde. Outro ponto também muito importante para nós é a devastação do meio ambiente. Ele está fortemente comprometido, devastado, prejudicado e praticamente irrecuperável, na mesma capacidade da floresta natural existente nesta região que devia estar preservada. O terceiro ponto é o econômico. A riqueza nas mãos de poucos e a grave concentração da fome no restante da comunidade desta região. Em resumo o Estado de Pernambuco tem um processo criminoso contra os pernambucanos. É uma região muito rica e ao contrário disto, há uma grande destruição pelas mãos de poucos. Vocês ouviram a entrevista com Maria de Oliveira, Superintendente do Incra de Pernambuco. De Brasília, da Agência Notícias do Planalto, Gisele Barbieri 07/11/06

 

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