Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Dia 07 de fevereiro deveria constar nos calendários como dia internacional de luta pela paz e contra as desigualdades do mundo. Foi neste dia que, em 1909, nasceu em Messejana, Ceará, Hélder Câmara, homem que mais tarde fora reconhecido mundialmente como Dom da Paz, pela sua incansável dedicação à erradicação da pobreza e das injustiças sociais.

Se vivo, Dom Hélder Câmara teria feito, no último dia 7, 98 anos, boa parte deles dedicados a causas humanitárias e ao combate à Ditadura Militar, o que lhe rendeu, ao longo da vida, 32 títulos de doutor Honoris Causa em todo o mundo e o apelido de “Bispo Vermelho”. Desde o início de seu sacerdócio, aos 22 anos, o então Padre Hélder se destacava pela sua dedicação à organização popular. Ainda no Ceará, ajudou na criação do Movimento da Juventude Operária Católica, da Legião Cearense do Trabalho e da Sindicalização Operária Feminina Católica, que organizava as mulheres que trabalhavam como passadeiras, lavadeiras e empregadas domésticas.

Diante de todo trabalho voltado para as causas sociais, Dom Hélder não pode escapar da necessidade de organização política. Na juventude, filiou-se à Ação Integralista Brasileira (ABI), deixando mais tarde o integralismo para juntar-se a grupos progressistas. Reconhecidamente um militante preparado e comprometido, Câmara foi nomeado, em 1935, pelo então Governador do Ceará, Menezes Pimentel, para o cargo de Diretor da Instrução Pública do Estado, o que corresponde hoje a Secretário de Educação. Na pasta, o prelado liderou uma importante reforma no método de ensino, o que resultou em reconhecida melhoria no desenvolvimento da educação pública no estado do Ceará.

Após a sua gestão no Governo do Estado do Ceará, Dom Hélder foi eleito Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro. No Rio, o pároco ganhou projeção internacional por conta da sua luta contra a pobreza e a miséria, suas obras mais conhecidas foram a Cruzada de São Sebastião e o Banco da Providência. A Cruzada de São Sebastião tinha na sua missão a pretensão de erradicar as favelas do Rio, enquanto o Banco da Providência estimulava a solidariedade e a doação, que iam desde doações diretas em dinheiro à prestação de serviços médicos e odontológicos voluntários. Destas ações, foi que ficou conhecida uma das célebres e mais conhecidas frases de Dom Hélder, “Ninguém é tão pobre que não tenha o que oferecer e ninguém é tão rico que não precise de ajuda”.

O legado de Dom Hélder à Igreja Católica, principalmente a ala progressista, foi imensurável. Ele foi um dos fundadores no Brasil da Ação Católica Brasileira e do Conselho Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), além de ter sido um dos articuladores da criação da CELAM, Conselho Episcopal Latino Americano, fruto da sua visão progressista e quase profética, que já apontava para a necessidade de uma unidade latino-americana.

No ano de 1964, Dom Hélder assumiu o cargo de Arcebispo de Olinda e Recife, cargo este que só deixou quando não tinha mais condições físicas, faltosas pela idade, e passou, então, a ser Arcebispo Emérito até seus últimos dias. Para o Bispo, o ano de 64 não foi apenas marcado pela sua indicação ao posto da Arquidiocese de Olinda e Recife: neste ano teve início também a Ditadura Militar, outra época que vai marcar sua atuação política. Acostumado desde sempre a fazer questionamentos ao poder público e a propor reformas no campo e na cidade para erradicar a pobreza, Dom Hélder passou a ser um “calo” para os agentes da ditadura.

“... quando dou pão aos pobres,

chamam-me de santo, quando

pergunto pelas causas da pobreza,

me chamam de comunista.”...

Pelo seu posto e conhecimento internacional, Câmara gozava de certa estabilidade e estava “protegido”. Sofria limites pela censura, porém, não mais que isso, visto que era reconhecidamente uma figura pública e do alto escalão da Igreja. Contudo, Dom Hélder se utilizava de sua posição para interceder em nome dos presos e perseguidos políticos, tentado evitar o pior. Mas sua atuação não ficou só na defesa dos outros, ele foi sujeito ativo contra a ditadura e mesmo diante de ameaças e intimidações, nunca se calou. Dialogava com todos, até mesmo com os militares, caso fosse preciso interceder por alguém. Por força das suas colocações públicas e pregações “comunistas”, sua fala e “existência” foram ocultadas nos jornais e revistas da época, o que não serviu para apagar suas mensagens e obras políticas, evangélicas e sociais.

Dom Hélder segue ainda hoje forte e vivo nas mensagens e ações de tantos outros padres, de tantas outras freiras e de tantas outras pessoas, cristãs ou não, que acreditam num mundo melhor e mais justo. O Dom da Paz ou o Arcebispo Vermelho, ou o Profeta do Desenvolvimento, ou o Bispo das Favelas, que de forma tão contundente fez a “opção pelos mais pobres”, deixou a certeza de que, seja através da igreja ou das lutas sociais, o importante é desprender-se das amarras e construir, organizados/as, um mundo justo, igualitário e tolerante.

"É a graça divina começar bem.

Graça maior persistir na caminhada certa.

Mas graça das graças é não desistir nunca".

(D. Hélder Câmara 1909-1999)

* Assessora da Comunicação da CPT- PE

 

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