Desde 2010, esta mesma região tem sido notícia em todo o país, mas não pelas experiências de convivência com o Semi-árido e de agricultura camponesa, e sim pela tentativa de implementação de um projeto que ficou conhecido pelas camponesas e camponeses como o “projeto da morte”. Desde então, as famílias, movimentos sociais e organizações do campo vêm denunciando e cobrando do Governo Federal medidas que revertam o chamado Projeto de Irrigação da Chapada do Apodi. Dentre outras coisas, o Projeto prevê a desapropriação de mais de 13 mil hectares para implementação de 5 ou 6 grandes empresas de fruticultura irrigada para a exportação. Se implementado, o projeto irá expulsar as famílias camponesas que vivem no local há dezenas de anos e destruirá todas as experiências de produção agroecológica e de convivência com o Semi-árido cultivadas na região.
E diante deste cenário, as mulheres resistem às investidas do Estado e do Grande projeto de irrigação contra a agricultura camponesa. A trabalhadora rural, Ivone Brilhante, mora no assentamento Sítio do Góis, em Apodi. O assentamento está localizado em uma região que não será atingida diretamente pelo projeto. No entanto, a trabalhadora ressalta que os impactos já são sentidos pelas famílias. Dona Ivone é presidenta da associação comunitária, tem participado de mobilizações, audiências, caminhadas, marchas e atos públicos contra o Projeto de Irrigação. “Na associação em que faço parte, todas são mulheres, só tem um homem”, ressalta.
Segundo ela, as mulheres estão presentes em todos os espaços de luta em defesa da agricultura camponesa. Mas é no cotidiano que Ivone, junto com tantas mais mulheres, constrói novas práticas e relações entre homem, mulher e meio ambiente: pela convivência com o semi-árido e pela preservação ambiental na região de Apodi/RN. “Aqui, as mulheres estão em todos os cantos. Tem mulheres na apicultura, no plantio de algodão, no manejo da caatinga. A gente desenvolve um trabalho de agroecologia junto com as famílias para que a gente possa deixar um bom futuro para os nossos filhos”.
A trabalhadora ensina que a agricultura camponesa, o manejo da caatinga, a apicultura, tudo, depende e deve vir junto com a preservação ambiental: “A gente depende do meio ambiente para sobreviver. Se a gente não faz um trabalho de manejo da caatinga, de agrofloresta, preservando o meio ambiente, amanhã ou depois não vai existir nada disso pra gente. Se a gente só destrói, amanhã ou depois a natureza vai negar o nosso pão.”
Dona Ivone reforça ainda que, ao contrário dos monocultivos como defende o Estado (através do Grande Projeto de Irrigação da Chapada), na agricultura camponesa é muito importante a preservação e valorização da diversidade. “Por isso que aqui tem grupo de caprino, cabra leiteira, algodão agroecológico. Assim você vai ter o período da apicultura, tem o período que está colhendo o algodão agroecológico, além da caprinocultura e o leite, que a gente tira todo dia. Assim, em cada período do ano nós temos fartura”
É assim que, todos os dias, Dona Ivone e as mulheres camponesas da região da Chapada do Apodi resistem ao agronegócio e aos Grandes Projetos, que avançam com o apoio do Governo Federal: cultivando experiências camponesas que são exemplos de preservação ambiental, de respeito e valorização da cultura camponesa e da convivência com o Semi-árido. “Todos os dias a gente enfrenta este projeto do agronegócio, como o Projeto de Irrigação da Chapada do Apodi, que mata a natureza e quer acabar com as famílias camponesas”.
Setor de comunicação da CPT NE II