Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Artigo
Após assistir ao longa metragem “Vento Agreste” e conversando com  algumas pessoas que fizeram parte da construção do longa, levantamos alguns possíveis problemas de saúde, observado e evidenciados pelas pessoas que vivem e são atingidas por essa turbinas de produção de energia, relatando como tem aparecido novas doenças após essa chegada. 

Joelson Santos*
Brasil de Fato | Recife (PE) |
Documentário "Vento Agreste", que mostra denúncias de agricultores e agricultoras que sofrem com a instalação de usinas eólicas em Pernambuco - Divulgação Documentário "Vento Agreste"

A comunidade de Sobradinho está localizada na  zona rural do município de Caetés. Esse município é conhecido por ser a terra de nascimento do Presidente Lula, com aproximadamente 26.577 habitantes. Comecei então a realizar algumas pesquisas na internet sobre os debates em torno das denúncias, produções científicas, jornalísticas etc, com foco nos danos à saúde humana. Não foi muito fácil encontrar materiais principalmente com produções brasileiras, porém o que encontrei dialoga com os relatos trazidos pelo longa metragem.

Pelos caminhos da pesquisa me encontrei com o termo “Síndrome da Turbina Eólica”. O termo com mais facilidade de encontrar trabalhos científicos e jornalísticos, que fazem a relação com saúde humana. Então elaborei uma pergunta simples e objetiva, buscando facilidade de diálogos entre diversas profissões, movimentos sociais e pelas comunidades.

Toda síndrome se caracteriza por um conjuntos de sinais e de sintomas, entre os mais encontrados nos relatos dos autores a perturbação do sono, transtorno de ansiedade, dores de cabeça, aumento da pressão arterial, náuseas, depressão, dores no corpo, transtornos do desenvolvimento nas crianças e aumento do abuso de álcool, tabaco e remédios como os benzodiazepínicos.


A agricultora Maria Neuma da Silva tem feito uso constante de ansiolíticos e antidepressivos após sofrer com problemas de saúde mental causados pelos aerogeradores / Vinícius Sobreira/Brasil de Fato

Algumas dessas doenças tem íntima relação dos ruídos de alta ou de baixa intensidade, contaminação lumínica, as ondas eletromagnéticas, ondas sônicas de baixa frequência e outros que interferem de forma individual ou sinérgica; a gravidade das doenças depende do tempo de exposição , da proximidade com as turbinas  e redes de distribuição.

Após o impacto dos relatos de problemas de saúde abordados pelo longa, se fez uma mobilização com profissionais de saúde para ofertar práticas de cuidados, desde as tradicionais até as práticas populares. Logo na chegada da comunidade, deu o sentimento de que “futuro” de filmes de ficção científica de anos atrás, aqueles cataventos gigantes girando e ocupando espaço em toda a paisagem, algo de dar frio na barriga, pelo sentimento de distopia.

Em um momento de apresentação da comunidade e explicação de como iria ser a atividade logo a comunidade começou a falar sobre os sentimentos e de como foi que tudo aconteceu, e quais problemas observados após a chegada desse empreendimento, que jamais a população foi esclarecida de que isso poderia acontecer.

Importante salientar aqui que a população atingida a qual fomos visitar, não foram as que assinaram o contato, são vizinhos de outras pessoas que assinaram, mas as torres no local estão 155, 200 e 300 metros de proximidade das casas.

É evidente pelos trabalhos encontrados e pelos relatos das pessoas que as eólicas são responsáveis pelo surgimento de várias doenças como mencionado anteriormente, e agravam as doenças crônicas preexistentes. Junta-se a isso as denúncias de pouca assistência à saúde e compreensão da relação entre eólicas e processo saúde-doença. As pessoas estão sendo tratadas como problemas comuns de saúde, por isso há pouca resolução.

Segundo o portal da Neoenergia, hoje no Nordeste existem 523 parques eólicos, dos 619 existentes em todo país, e 86% da energia eólica produzida no Brasil está no Nordeste. Atualmente tem 27 parques sendo construídos na Paraíba e no Piauí.

A antiga e vigente desculpa de que o Nordeste é seco e que as eólicas são uma forma de produzir dinheiro e desenvolvimento da região, é uma mentira e desculpa para justificar esses empreendimentos neoliberais sem debater com a população e explicar as consequências. 

O bioma caatinga sofre com racismo ambiental, devido a suas características, e é o bioma menos preservado nacionalmente. Exclusivamente brasileiro, ocupa 11% do território nacional, apenas 7,5% estão protegidos em unidades de conservação e 1,5% apenas possui proteção integral. 

Assim como planejamos mudar o sistema capitalista de explorar, produzir e determinar as nossas vidas, também urge a articulação dos movimentos sociais, da sociedade civil, universidades entre outros, para aumentar o poder de luta e resposta ante essas assombrosas torres, que afetam todos os seres vivos, desequilibrando a ecologia em nome do futuro, do renovável e do progresso.

O Brasil precisa construir parâmetros para esses empreendimentos, principalmente de distância, e estudar bem os riscos e benefícios; financiar pesquisas e educação continuada para profissionais de saúde voltadas para essa situação de saúde e sobretudo, prestar assistência de saúde e social às populações atingidas pelas eólicas.

*Joelson é militante do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) e Médico Especialista em Medicina de Família e Comunidade

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Pernambuco.

Edição: Vanessa Gonzaga

 

 

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