Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Todas as usinas sucroalcooleiras do Estado fiscalizadas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) apresentaram irregularidades durante uma força-tarefa realizada esta semana em 11 estabelecimentos. No caso mais grave, uma empresa de grande porte foi flagrada mantendo 62 trabalhadores em condições degradantes e, caso não cumpra exigências do órgão até segunda-feira, pode sofrer sanções por submeter trabalhadores à condição análoga a de escravidão.

Diário de Cuiabá , KEITY ROMA
Da Reportagem, 24/07/09
Nos próximos cinco anos o segmento deve ter 180 novas unidades no país, com investimentos na ordem de R$ 17 bilhões. As perspectivas de expansão motivaram o início das inspeções, realizadas no interior por 20 procuradores entre os dias 20 e 24. Elas são fruto do Programa Nacional de Promoção do Trabalho Decente no Setor Sucroalcooleiro, feito em parceria pelo MPT e Ministério Público da União.

Cerca de 10 mil trabalhadores rurais são empregados nas usinas no período de safra, que no Estado começou no final de abril e atinge a alta produção a partir deste mês. Apesar da numerosidade, os procuradores detectaram que grande parte dos trabalhadores do segmento não tem acesso a condições mínimas de dignidade na rotina de trabalho e não raro são lesados pelos empregadores.

O coordenador do programa nacional, procurador Alessandro Santos de Miranda, frisou que a ação é preventiva e o que está sendo cobrado com urgência são condições mínimas para que os trabalhadores não corram riscos durante o exercício laboral e sejam respeitados. “Na cidade, não há preocupação no fato do trabalhador ter acesso a um banheiro, a um papel higiênico, mas no campo, muitas vezes eles não têm nem acesso a isso. Estamos exigindo o mínimo necessário”, falou.

As principais irregularidades encontradas nas usinas que realizam colheita mecanizada foram excesso de jornada de trabalho - cada funcionário chega a trabalhar até 14 horas por dia nos maquinários pesados -, os alojamentos sem higienização básica e o não-fornecimento de equipamentos de proteção individual, que é dever legal do patrão.

Nos locais em que a colheita é manual, a situação é ainda mais crítica, já que, no geral, os trabalhadores são menos qualificados e ainda mais explorados. “Eles trabalham o dia todo no sol e nem para almoçar há sombra, que deveria existir em uma espécie de lona que pode ser esticada do próprio ônibus”, disse o procurador-chefe substituto do MPT no Estado, Roberto Mildner. Também não há kits de primeiros socorros para acudir os cortadores de cana, caso haja acidentes.

Miranda relatou que outra situação grave é o fornecimento de água potável aos funcionários durante as atividades. Em meio ao matagal e expostos ao sol, eles precisam racionar o líquido para que todos possam beber ao longo do dia. Para tamanho sacrifício, não se pode dizer que o salário chega a ser digno.

“Conversamos com uma senhora de 69 anos que corta por dia cerca de duas toneladas de cana. O total leva ao pagamento mínimo diário, de R$ 17,66. Um jovem em plena atividade derruba cerca de nove toneladas e tem renda de até R$ 1,3 mil. A briga para acabar com a remuneração por produção é para que não haja morte por exaustão”, disse o coordenador.

Duas empresas ainda serão fiscalizadas hoje. Ontem e anteontem as já fiscalizadas participaram de audiências no MPT para que regularizem as principais irregularidades com urgência. Nenhuma delas teve nome divulgado, mas, contumaz na prática, esta na lista a Alcoopan. A usina com trabalhadores resgatados terá de pagar R$ 5 mil a cada um e enviá-los aos locais de origem. Além de pagar pelas despesas ao empregador, eles ainda pagavam aluguel para despistar a fiscalização.

A Polícia Rodoviária Federal, parceira da ação, revelou que antes transportados em ônibus sucateados, agora os aliciados chegam trazidos por ônibus comerciais para escapar das abordagens.

 

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