Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Dinheiro público é investido em empresas construtoras de barragens que exploram trabalhadores em regime análogo à escravidão. Parece mentira, mas nos últimos meses isso foi deflagrado na construção de barragens em Rondônia, Goiás e no Mato Grosso. Em setembro, fiscais do governo federal e do Ministério Público do Trabalho resgataram 98 trabalhadores da Barragem Salto do Rio Verdinho, obra da Votorantim, em Goiás, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e que recebeu financiamento do BNDES de aproximadamente R$ 250 milhões de reais.

Alexania Rossato de São Paulo (SP)

Dinheiro público é investido em empresas construtoras de barragens que exploram trabalhadores em regime análogo à escravidão. Parece mentira, mas nos últimos meses isso foi deflagrado na construção de barragens em Rondônia, Goiás e no Mato Grosso. Em setembro, fiscais do governo federal e do Ministério Público do Trabalho resgataram 98 trabalhadores da Barragem Salto do Rio Verdinho, obra da Votorantim, em Goiás, que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e que recebeu financiamento do BNDES de aproximadamente R$ 250 milhões de reais.


De acordo com a fiscalização, as vítimas foram aliciadas criminosamente por "gatos" (intermediários) ligados a uma empresa terceirizada que atuava na obra. Os trabalhadores não recebiam salários regulares, eram submetidos a um sistema ilegal de endividamento, viviam em alojamentos impróprios e não tinham alimentação adequada. O mesmo aconteceu em Mato Grosso quando, em outubro, 78 trabalhadores foram libertados depois de um ano desmatando área para instalação do canteiro de obras de um conjunto de oito Pequenas Centrais Elétricas a serem construídas no rio Juruena, todas financiadas com dinheiro do BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica.


O caso mais emblemático aconteceu na construção da Usina Hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira, que recebeu R$ 7,2 bilhões do BNDES. Em setembro, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Rondônia e o Ministério Público do Trabalho libertou 38 pessoas que trabalhavam em condição análoga à escravidão para a BS Construtora, empresa terceirizada do consórcio dono da barragem, que construía a Vila Nova Mutum, para onde serão transferidas as famílias que residem na área que será inundada.


Durante a última greve dos trabalhadores das obras de Jirau e Santo Antonio, eles afirmaram que "ficar lá é ficar no inferno" e denunciaram que o alojamento é apertado para a quantidade de homens hospedados; que o preço pago pela hora de serviço, além de ser baixíssimo, nem sempre cobre todas as horas extras trabalhadas e que ficam à mercê dos controladores, já que não têm acesso aos registros das horas trabalhadas.


O presidente do sindicato dos trabalhadores da construção civil de Rondônia, Anderson Machado, argumenta que em obras financiadas com recursos públicos, a vigilância e a fiscalização das condições de trabalho dos operários pelo Ministério do Trabalho deve ser redobrada, e que todos os trabalhadores devem ter condições dignas de trabalho e moradia, aspectos que não foram encontrados entre os trabalhadores libertados. Já o MAB lamenta que obras financiadas pelo BNDES tratem os trabalhadores dessa maneira. “O discurso do desenvolvimento, sempre repetido pelos donos das usinas mais uma vez é questionado: desenvolvimento para quê e para quem? Com certeza ele não virá para o povo!”, argumenta Océlio Muniz.

 

Fonte: www.brasildefato.com.br

 

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