Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Na última terça-feira, 27, foi realizada a audiência pública "Veneno no céu é veneno na terra", que discutiu os impactos e os perigos da pulverização aérea de agrotóxicos em Pernambuco. A iniciativa, realizada na Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE), foi um importante espaço para avançar nas discussões sobre os males causados pelo veneno na vida, na terra e na produção de alimentos e para sensibilizar parlamentares em torno da instituição de uma lei que proíba a pulverização aérea de agrotóxicos em Pernambuco. É o que avaliam as organizações sociais, agricultores e agricultoras que estiveram presentes na ocasião.

Durante a audiência, camponeses e camponesas apoiados pela CPT levantaram a voz para denunciar os impactos e os danos provocados pela pulverização aérea de agrotóxicos. "Se eu passar com um drone ou com um avião eu vou prejudicar todo mundo e não vou matar só a cigarra, vou matar a comunidade inteira. Além da agricultura, o veneno está matando as fontes de água, os rios, os animais", destacou Antônio Cícero, da comunidade Barro Branco, em Jaqueira, Mata Sul de Pernambuco.

"Quem está de fora é muito fácil falar, mas a gente que vive dentro da propriedade se sente frustrado. Sou uma agricultora e hoje eu não produzo mais nada. Depois que eles [usina] começaram a fazer uso do agrotóxico por avião acabou minha propriedade. Eu tinha cinco mil pés de couve, hoje eu não tenho cem. Jaca, manga, tudo se acabou. É como se tivesse passado uma devastação na minha propriedade", denunciou a agricultora Lucilene Florentino, do Assentamento Chico Mendes, situado em Tracunhaém.

Geovani Leão, membro da coordenação regional da CPT NE2, ressalta que o estado de Pernambuco vem sofrendo muito com o uso de agrotóxicos como arma química em conflitos agrários e com a pulverização aérea, sendo alguns utilizados de forma clandestina. Na avaliação do agente pastoral, as organizações e movimentos sociais, assim como os agricultores e agricultoras impactados diretamente pela aplicação do veneno, conseguiram deixar o recado de que o agrotóxico mata. "Conseguimos denunciar e ampliar o debate. Na ocasião, foram feitos testemunhos duros e fortes, e deixamos o recado de que o agrotóxico é veneno e veneno mata. Veneno no ar é veneno na terra e também veneno no prato. Agora, vamos seguir planejando mais ações, mais espaços de diálogo para que a gente construa a lei que proíba a pulverização aérea dos agrotóxicos em Pernambuco". Esse é o "pontapé inicial", pois "muita luta será feita até que estejamos livres dos agrotóxicos",  ressalta Geovani.

A pesquisadora e médica Idê Gurgel avaliou que a audiência foi um espaço democrático e que fortaleceu o debate dentro da Assembleia Legislativa. "A expectativa é que o debate continue, se amplie, amadureça; que num futuro muito próximo consigamos aprovar uma legislação pela vida, contrária ao uso dos agrotóxicos, principalmente a pulverização aérea. E que sejam criadas zonas livres de agrotóxicos no estado de Pernambuco", destacou. Cícera Nunes, presidenta da Fetape, destacou que "neste momento em que estamos em disputa de projeto político e de sociedade, a audiência deixou evidente o que queremos: a agricultura familiar, que alimenta a nação brasileira. Infelizmente, sabemos que existe veneno em nossa alimentação. Se queremos vida e alimentação saudáveis, o projeto que estamos trazendo, da agricultora camponesa e familiar, é o caminho para a sociedade pernambucana seguir", afirmou.

Maria Cristina, do Centro Sabiá, ressaltou que "esse é um debate que mexe com vários setores ligados à agricultura no estado de Pernambuco. Tem o setor do empresariado e do agronegócio, mas também tem um conjunto de agricultores e agricultoras que estão na audiência pela defesa da vida, pela produção de alimentos saudáveis para o campo e para a cidade. Essa audiência traz para nós o quanto de luta nós temos. Temos uma disputa de projeto político e econômico, de produção de alimentos. Nessa disputa, tem a narrativa de quem defende o agronegócio, de quem defende a morte e o lucro, mas tem a outra narrativa, de um conjunto de organizações e movimentos que defendem a vida, a natureza e os direitos humanos", afirma Graciete Santos, da Casa da Mulher do Nordeste.

A Audiência Pública foi fruto de uma articulação entre a Fetape, a CPT, a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA/PE), a Casa da Mulher do Nordeste, o Centro Sabiá, e contou com o apoio e organização dos mandatos dos deputados Doriel Barros, Rosa Amorim, João Paulo (PT) e Dani Portela (PSOL).

 

 

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