Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Por Mariana Martins*

Para se discutir o papel da mulher tem que disputar a representação que ela tem na mídia

Discutir o papel da mulher na sociedade é um dever de todas as organizações que inserem na sua pauta a luta por um mundo justo, sejam elas sindicatos, movimentos de luta pela terra, partidos políticos ou qualquer outra organização social.

As relações sociais estabelecidas historicamente estão impregnadas, em sua maioria, por várias formas de opressão, dentre elas o machismo. Somos levados/as desde criança a naturalizar atitudes permeadas por preconceitos. Na sociedade moderna, o sistema que dissemina a ideologia da desigualdade e do preconceito investiu pesadamente na veiculação em massa dos seus valores. Um dos seus principais instrumentos para esta tarefa é a grande mídia burguesa.

Muitas vezes de forma explicita, mas também de forma subliminar, a grande mídia nos transmite valores que fortalecem a sociedade de consumo e o sistema capitalista. A mulher, assim como as demais maiorias oprimidas e as minorias, é alvo de constantes sensacionalismos e de visões estereotipadas. A mulher tem sua imagem muitas vezes relacionada à submissão e o seu corpo usado como estimulador de audiência. A audiência é a maior das mercadorias dos meios de comunicação de massa, é ela que é vendida para publicidade, que paga por inserções na programação. O valor de cada inserção é determinado pela quantidade da audiência em determinados horários.

Para otimizar a audiência a utilização do corpo da mulher é, por exemplo, uma fórmula que tem boa probabilidade de dar certo e, portanto, é bastante sedutora para os produtores. A publicidade, que faz a inserção na programação, também segue a mesma lógica e coisifica a mulher para vender seus produtos - e, não sejamos ingênuos, para vender também as tais idéia que fortalecem o sistema.

Como exemplo podemos citar o caso já bastante conhecido das propagandas de cerveja nas quais as mulheres muitas vezes são “as próprias cervejas”, o objeto de desejo. Já os programas policialescos seguem a linha da exposição das mulheres agredidas, a violência para eles é sempre sensacional. Nas entrelinhas estão muitas vezes a ridicularizarão da mulher e, quando não, a tentativa de “justificar” a violência culpando-as pelas agressões sofridas. Nos dois exemplos podemos também facilmente identificar outro grave problema que está presente nas representações, as mulheres do primeiro caso tem, na maioria das vezes, imagem de uma classe média alta, enquanto as do segundo caso figuram quase sempre como classe média baixa ou pobres, como se a violência doméstica tivesse classe social.

Utilizar o corpo da mulher como mercadoria serve para contribuir com a visão machista, veiculada incessantemente, de que as mulheres se resumem a corpos siliconados e que o valor da mulher reside em sua aparência externa. Esta imagem, por sua vez, fortalece a idéia da mulher como ser apolítico, como coadjuvante, como submissa e dependente.

Nesta lógica, alimentada pela mídia a serviço do capital, as mulheres camponesas, trabalhadoras rurais, donas de casa, por exemplo, não têm vez, não tem voz. A mulher camponesa só aparece na mídia quando faz atividades radicalizadas, como a ocupação da Aracruz Celulose em 2006. E mesmo nesses momentos ela não é ouvida. Não interessa a grande mídia veicular o motivo da ocupação, a causa da luta das mulheres. Ninguém sabe a sua pauta, não é valorizada a sua vida, tampouco o seu trabalho e seu papel político.

Portanto, a luta pela participação política da mulher passa por mudar a representação que ela tem na mídia, que se configura cada dia mais como um importante espaço público. Se quisermos construir uma sociedade justa passando pela disputa das idéias, temos que disputar os valores veiculados na grande mídia, mudar a imagem estereotipada da mulher, e também dos negros/as, dos índios/as, dos camponeses/as e dos trabalhadores/as.

Organizar as mulheres e discutir seu papel políticos em casa e nos espaços públicos é fortalecer o combate ao machismo e também a outros diversos tipos de opressões. O preconceito, a discriminação e a desigualdade são reflexos de uma sociedade construída sob bases injusta, mas que se não forem combatidas desde já, não serão facilmente resolvidas em nenhum outro sistema.

É desta forma que, em homenagem ao dia internacional da mulher - que para nós é dia de luta - a Comissão Pastoral da terra convida você para assistir ao vídeo Mulher e Mídia: uma relação desigual, produzido pelo Fórum Pernambucano de Comunicação. O vídeo denuncia as diversas formas de exploração da mulher pela mídia, seja pela exploração do seu corpo, do seu sofrimento ou da violência da qual ela é vítima.

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*Jornalista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, colaboradora da Equipe de Comunicação da Comissão Pastoral da Terra Regional Nordeste 2, membro do Intervozes e do Fórum Pernambucano de Comunicação.

 

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