
Por DCOM IFPE
A cerimônia de abertura para o público do Grande Recife e da Zona da Mata aconteceu no auditório do Campus Recife e contou com a presença de gestores da instituição e lideranças de movimentos sociais. Também houve uma palestra do professor Gaudêncio Frigotto, considerado um dos maiores pesquisadores do Brasil na área de educação e trabalho.
Durante sua fala de boas-vindas, o Reitor do IFPE, José Carlos de Sá, citou algumas ações do Instituto e ressaltou o papel da instituição na diminuição das desigualdades sociais: “Somos um dos sete Institutos Federais que estão participando desse programa do MEC. É uma alegria muito grande ver o IFPE estabelecer esses laços com os povos do campo e cumprir sua missão de interiorizar a educação, a ciência e a tecnologia. Foi para isso que a Rede Federal foi criada. O IFPE está onde precisa e deve estar”, declarou ele emocionado diante de um auditório lotado.
Já a Pró-Reitora de Extensão (Proext), Ana Patrícia Falcão, exaltou o trabalho desenvolvido pelo Coordenador de Extensão com os Povos do Campo do IFPE, André Gonçalves, e o empenho de toda equipe. “Tudo isso vem acontecendo, porque é uma relação de confiança e respeito com os movimentos sociais e municípios. Foi uma construção coletiva de muitas mãos, olhares, desejos e sonhos. Enquanto gestores, estamos construindo essas políticas com e para os povos do campo, para que elas se materializem na vida das pessoas e no chão da escola”, afirmou.
Também estiveram presentes o Diretor-Geral do IFPE-Campus Barreiros, Adalberto Arruda, o Diretor-Geral do IFPE-Campus Recife, Marivaldo Rosas, o Coordenador da Escola da Terra do IFPE, André Gonçalves, e a estudante Vitória Gonçalves, que representou o Grêmio Capivaras da Resistência do IFPE-Recife.
MOVIMENTOS SOCIAIS
As intervenções dos representantes dos movimentos sociais reforçaram a luta histórica por políticas públicas efetivas de educação para quem vive no campo.
Com os versos “Não saio do campo para ir para a escola; educação não é esmola”, Rubineusa Leandro, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), abriu sua fala e arrancou aplausos do público. “Nós temos uma luta de mais de 20 anos por políticas públicas que garantam aos povos do campo uma educação de qualidade. O IFPE está tendo um papel importantíssimo pra formação de docentes”, avaliou.
Na mesma linha, Antenor Lima da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (FETAPE), destacou a importância da iniciativa: “A Fetape é filha das Ligas Camponesas. Para nós, é um orgulho estar aqui hoje, porque reconhecemos que aqui acontece a educação que acreditamos. Não tenho dúvida de que, nesse momento, o IFPE está fazendo revolução em Pernambuco”, afirmou.
Já Plácido Júnior da Comissão Pastoral da Terra (CPT) chamou atenção para alguns desafios que a Escola da Terra tem. “O primeiro é compreender que essa terra tem diversas territorialidades (quilombolas, indígenas, posseiros/as, agricultores/as familiares, pescadores/as, marisqueiros/as, trabalhadores/as rurais, assentados/as de reforma agrária) e que, no campo, existe uma disputa de poder. Ou seja, pensar as relações de poder no campo e a noção de Terra como uma casa comum é fundamental para pensarmos um processo educacional”, alertou.
PROFESSOR GAUDÊNCIO FRIGOTTO
Sétimo de nove filhos de uma família de pequenos agricultores imigrantes no interior do Rio Grande do Sul, o professor Gaudêncio Frigotto, 76 anos, referência nacional na área de educação e trabalho, começou sua palestra contando que apenas ele e uma irmã concluíram o ensino de nível superior. Os demais possuem somente quatro anos de escolaridade. “Nós vamos construindo conhecimento a partir das circunstâncias. É fruto de acúmulo e experiência”, assinalou.
“Não se quer uma educação no campo. Se quer uma educação do campo. Aí existem saberes e culturas, como é o ponto de partida de qualquer território. O do campo é a luta aqui representada pelos movimentos sociais. A escola do campo não pode ser menor. É um direito, para que o jovem do campo possa ser cidadão do mundo”, defendeu.
A partir de sua experiência de educação na infância, da realidade de uma escola do campo dos anos 1940, Frigotto refletiu sobre a importância dos/as professores/as nesse processo. “Eu tive uma professora que valorizou o que eu já sabia. Vocês, como professores e professoras têm um papel fundamental e é fundamental que se sintam em casa aqui no IFPE. Ser professor hoje no chão da escola é muito complexo e é muito mais na educação do campo”.
Crítico da Reforma do Ensino Médio, o pesquisador resgatou a origem burguesa da escola e reforçou que a educação básica é a interligação de saberes, ao passo que o Ensino Médio seria a travessia para a cidadania. Durante sua fala, ele propôs a noção ontocriativa do trabalho, isto é “o princípio educativo do trabalho socialmente produtivo como meio de socialização de pessoas que não exploram, que contribuem para o bem coletivo”.
SERTÃO DO PAJEÚ
No sábado (23) às 9h, acontece a Aula Magna do curso da Escola da Terra para estudantes do Sertão do Pajeú no auditório do IFPE-Afogados da Ingazeira, com a presença da professora Celi Taffarel da Universidade Federal da Bahia.