Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) promoveu, na manhã desta sexta-feira (22), a Aula Magna do primeiro curso de aperfeiçoamento ofertado pelo Instituto através do programa Escola da Terra, vinculado ao Ministério da Educação (MEC). Voltado para docentes de escolas campesinas do Grande Recife, Zona da Mata e Sertão do Pajeú, o programa será realizado entre setembro de 2023 e maio de 2024, com aulas em três campi do IFPE: Igarassu, Barreiros e Afogados da Ingazeira.

Por DCOM IFPE

A cerimônia de abertura para o público do Grande Recife e da Zona da Mata aconteceu no auditório do Campus Recife e contou com a presença de gestores da instituição e lideranças de movimentos sociais. Também houve uma palestra do professor Gaudêncio Frigotto, considerado um dos maiores pesquisadores do Brasil na área de educação e trabalho.

Durante sua fala de boas-vindas, o Reitor do IFPE, José Carlos de Sá, citou algumas ações do Instituto e ressaltou o papel da instituição na diminuição das desigualdades sociais: “Somos um dos sete Institutos Federais que estão participando desse programa do MEC. É uma alegria muito grande ver o IFPE estabelecer esses laços com os povos do campo e cumprir sua missão de interiorizar a educação, a ciência e a tecnologia. Foi para isso que a Rede Federal foi criada. O IFPE está onde precisa e deve estar”, declarou ele emocionado diante de um auditório lotado.

Já a Pró-Reitora de Extensão (Proext), Ana Patrícia Falcão, exaltou o trabalho desenvolvido pelo Coordenador de Extensão com os Povos do Campo do IFPE, André Gonçalves, e o empenho de toda equipe. “Tudo isso vem acontecendo, porque é uma relação de confiança e respeito com os movimentos sociais e municípios. Foi uma construção coletiva de muitas mãos, olhares, desejos e sonhos. Enquanto gestores, estamos construindo essas políticas com e para os povos do campo, para que elas se materializem na vida das pessoas e no chão da escola”, afirmou.

Também estiveram presentes o Diretor-Geral do IFPE-Campus Barreiros, Adalberto Arruda, o Diretor-Geral do IFPE-Campus Recife, Marivaldo Rosas, o Coordenador da Escola da Terra do IFPE, André Gonçalves, e a estudante Vitória Gonçalves, que representou o Grêmio Capivaras da Resistência do IFPE-Recife.

MOVIMENTOS SOCIAIS

As intervenções dos representantes dos movimentos sociais reforçaram a luta histórica por políticas públicas efetivas de educação para quem vive no campo.

Com os versos “Não saio do campo para ir para a escola; educação não é esmola”, Rubineusa Leandro, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), abriu sua fala e arrancou aplausos do público. “Nós temos uma luta de mais de 20 anos por políticas públicas que garantam aos povos do campo uma educação de qualidade. O IFPE está tendo um papel importantíssimo pra formação de docentes”, avaliou.

Na mesma linha, Antenor Lima da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (FETAPE), destacou a importância da iniciativa: “A Fetape é filha das Ligas Camponesas. Para nós, é um orgulho estar aqui hoje, porque reconhecemos que aqui acontece a educação que acreditamos. Não tenho dúvida de que, nesse momento, o IFPE está fazendo revolução em Pernambuco”, afirmou.

Já Plácido Júnior da Comissão Pastoral da Terra (CPT) chamou atenção para alguns desafios que a Escola da Terra tem. “O primeiro é compreender que essa terra tem diversas territorialidades (quilombolas, indígenas, posseiros/as, agricultores/as familiares, pescadores/as, marisqueiros/as, trabalhadores/as rurais, assentados/as de reforma agrária) e que, no campo, existe uma disputa de poder. Ou seja, pensar as relações de poder no campo e a noção de Terra como uma casa comum é fundamental para pensarmos um processo educacional”, alertou.

PROFESSOR GAUDÊNCIO FRIGOTTO

Sétimo de nove filhos de uma família de pequenos agricultores imigrantes no interior do Rio Grande do Sul, o professor Gaudêncio Frigotto, 76 anos, referência nacional na área de educação e trabalho, começou sua palestra contando que apenas ele e uma irmã concluíram o ensino de nível superior. Os demais possuem somente quatro anos de escolaridade. “Nós vamos construindo conhecimento a partir das circunstâncias. É fruto de acúmulo e experiência”, assinalou.

“Não se quer uma educação no campo. Se quer uma educação do campo. Aí existem saberes e culturas, como é o ponto de partida de qualquer território. O do campo é a luta aqui representada pelos movimentos sociais. A escola do campo não pode ser menor. É um direito, para que o jovem do campo possa ser cidadão do mundo”, defendeu.

A partir de sua experiência de educação na infância, da realidade de uma escola do campo dos anos 1940, Frigotto refletiu sobre a importância dos/as professores/as nesse processo. “Eu tive uma professora que valorizou o que eu já sabia. Vocês, como professores e professoras têm um papel fundamental e é fundamental que se sintam em casa aqui no IFPE. Ser professor hoje no chão da escola é muito complexo e é muito mais na educação do campo”.

Crítico da Reforma do Ensino Médio, o pesquisador resgatou a origem burguesa da escola e reforçou que a educação básica é a interligação de saberes, ao passo que o Ensino Médio seria a travessia para a cidadania. Durante sua fala, ele propôs a noção ontocriativa do trabalho, isto é “o princípio educativo do trabalho socialmente produtivo como meio de socialização de pessoas que não exploram, que contribuem para o bem coletivo”.

SERTÃO DO PAJEÚ

No sábado (23) às 9h, acontece a Aula Magna do curso da Escola da Terra para estudantes do Sertão do Pajeú no auditório do IFPE-Afogados da Ingazeira, com a presença da professora Celi Taffarel da Universidade Federal da Bahia.

 

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