Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

 

 

O Cimi testemunhou o nascimento da esperança do ventre estéril da pátria que desprezava seus povos indígenas. Permanecemos na nossa missão e serviço, conclamando a sociedade a rever sua história

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) completa 50 anos de sua fundação neste dia 23 de abril de 2022. Fundado a partir de um processo de diálogo de bispos e padres dentro da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Cimi foi recepcionado como organismo anexo e depois vinculado para a ação pastoral da Igreja Católica junto aos povos indígenas.

Esta decisão articulada de um grupo de missionários, na perspectiva de se aproximar da sociedade brasileira e das igrejas locais, foi fundamental para levar a esperança do trabalho pastoral junto aos povos indígenas.

Na década desenvolvimentista dos anos 1970, seguida de década dos anos 1980, houve muitas dúvidas e descrédito por parte da sociedade e das igrejas locais acerca dessa possibilidade de que os povos indígenas pudessem ter um futuro próprio, como povos que são.

Palavras como “civilização”, “progresso” e “desenvolvimento”, que exerciam um fascínio sobre a sociedade, foram confrontadas pela “opção pelos povos indígenas”, propondo uma ruptura com o modelo desenvolvimentista e seu projeto de integração aos padrões culturais e jurídicos da sociedade nacional.

Nesta sociedade classista, a opção pelos povos indígenas, expressa na missão do Cimi, trouxe a perspectiva da demarcação das terras e da proteção específica aos territórios e aos povos originários, além de novas formas de diálogo fundamentadas no respeito e reconhecimento da diversidade. Essa missão do Cimi, enquanto uma pastoral específica, integral e amplamente articulada, também se coloca no apoio à continuidade dos projetos de vida dos povos indígenas, que exige mudanças profundas no modelo econômico e sócio-político vigente.

Esses cinquenta anos de apoio à luta dos povos indígenas na missão do Cimi foram marcados por um crescente processo de conscientização da sociedade nacional e internacional da existência, resistência e dos direitos destes povos.

Nesse processo de luta deram-se as organizações e mobilizações dos povos indígenas e seus aliados na conquista de direitos fundamentais, com o consequente aspecto positivo da autonomia e do protagonismo. O aumento populacional, os direitos constitucionais – em especial a regularização dos territórios e as políticas públicas diferenciadas –, o respeito e participação são sinais importantes para a construção da cidadania para todo o povo brasileiro.

Na nossa dimensão de atuação, o Cimi tem caminhado junto aos povos indígenas no processo de diálogo, no qual nos orientamos pelos seguintes princípios: Terra Indígena como um lugar sagrado para os povos, o seu chão cultural, habitado por suas tradições, campo de sua história e existência. Diálogo intercultural e interreligioso, como orientação da nossa ação missionária, no respeito às diversas concepções do sagrado, da origem e do sentido da vida humana, das diversas formas dos povos indígenas, vivenciar e celebrar a fé.

movimento indígena enquanto espaço de construção de propostas e consolidação das alianças dos povos indígenas na luta pela defesa dos direitos. As alianças, a somatória de forças com a sociedade civil organizada, as pastorais, organizações internacionais, na construção de uma nova ordem e na efetivação da autonomia dos povos indígenas. Quanto à formação, compreendemos ser um processo integral, construído coletivamente, fundamentado na prática social. Buscamos contribuir, ainda, com a valorização e efetivação das políticas públicas de saúde, educação, sustentabilidade e outras, de forma diferenciada, observando a organização e cosmovisão de cada povo.

O Cimi, nesses 50 anos de existência, através da sua mística missionária militante, tem a satisfação de testemunhar que assistiu ao nascimento da esperança do ventre estéril da pátria que desprezava seus povos indígenas. Mas também denunciar que persistem os projetos de violência e morte contra os povos indígenas, na perspectiva da integração desenvolvimentista, na falta de proteção e invasão dos territórios que, enquanto política de governo, têm colocado em risco constante a integridade dos indígenas.

Permanecemos na nossa missão e serviço, na opção pela defesa dos direitos dos povos indígenas, conclamando a sociedade a rever o sentido de sua história e a repensar as orientações político-econômicas praticadas até hoje.

 

Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

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