Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

Durante as Jornadas de Lutas pela Reforma Agrária Popular – entre os últimos dias 10 ao 21 – os 21 mártires de Eldorado dos Carajás foram homenageados em mais de 100 atos simbólicos e ações solidárias em 24 estados que abrangem as grandes regiões do Brasil.

Da Página do MST

Neste ano de 2021 nos levantamos em marcha hasteando a bandeira da Reforma Agrária Popular em nossos acampamentos e assentamentos, produzindo alimentos saudáveis e soberania entre a classe trabalhadora no campo e na cidade.

Em saudações nacionais e internacionais, o MST recebeu mensagens de apoio e solidariedade à luta camponesa pela terra – que teve seu marco no último 17 de abril. Com faixas, bloqueios e atos simbólicos, militantes do movimento ecoam justiça pelos mártires e marcam os 25 anos de impunidade do Massacre de Eldorado dos Carajás. Também foram exigidos em protesto à volta do auxílio emergencial de R$600, vacinação para toda à população, defesa do SUS e Fora Bolsonaro.

Em solidariedade à população brasileira, o MST doou suor, pão e até sangue em campanhas de doações para hemocentros espalhados pelo Brasil, pois em meio ao genocídio do povo, a prioridade é salvar vidas.

Ao fazer um balanço das ações da Jornada de Lutas, a coordenadora nacional do MST, Marina dos Santos, comenta que as ações de solidariedade e de plantio de árvores sempre existiram no MST. Mas, agora no período da pandemia, essa tarefa tem se multiplicado, e se tornado cada vez mais fundamental. O que coloca o MST nesse lugar de cuidado com nosso povo e com nosso meio ambiente – no campo e nas cidades.

“Nos colocando no patamar da concretude da resistência ativa, então árvores e alimentos é o que garante hoje as ações de lutas e resistências e de uma esperança. Digamos assim, que o MST vai retomar – assim que passar essa pandemia, assim que nosso povo tiver vacinado – as lutas concretas e massivas, de ações de massa como é a nossa prática. Então, essas ações, também nos colocou em uma aliança mais profunda com o mundo urbano, com os pobres das periferias, onde aponta para nós a possibilidade das grandes mobilizações para o futuro próximo”, afirmou.

O MST segue em marcha marcando os sentidos da memória da luta camponesa, sendo protagonistas dessa história. E sabendo que saúde é a capacidade de lutar contra toda forma de opressão. Ocupa o latifúndio improdutivo no campo, nas ruas e pistas, na mente, nas mídias, nas redes, onde houver cercas: ocupar.

E desta forma, segue abaixo alguns dos principais eventos que ocorreram durante a Jornada de Lutas pela Reforma Agrária Popular do MST. Acompanhe as ações e atos que aconteceram em diversos estados do Brasil.

15º Acampamento Pedagógico Oziel Alves

Acampamento Pedagógico da Juventude em 2016, na Curva do S. Foto: Eriuz Tiaraju

Dando o pontapé inicial da Jornada, o 15º Acampamento Pedagógico Oziel Alves ocorreu entre os dias 10 à 17 de abril com ações que criaram corpo em debates, atos, mutirões, oficinas e eventos culturais, com uma programação construída e protagonizada pela Juventude Sem Terra. Partindo do Pará, impulsionaram a militância em âmbito nacional – de forma virtual –  à memória e herança viva da luta dos mártires de Eldorado dos Carajás, que completa 25 anos de impunidade.

Com o fim do acampamento pedagógico, a Juventude Sem Terra lança o “Manifesto da Juventude Sem Terra À Esperançar”, se comprometendo a seguir em luta, resistência e enfrentamento na defesa da Reforma Agrária Popular no desenvolvimento da agroecologia.

“…Nos desafiamos a intensificar o trabalho de base; a seguir sendo sujeitos das ações de solidariedade realizadas pelo MST junto às periferias urbanas; e a intensificar esse processo tão potente de formação que é contribuir na organização do povo junto às periferias. Reafirmamos nosso compromisso com a Reforma Agrária Popular e com a agroecologia como construtoras/es de dignidade no campo e de novas relações humanas de trabalho, de gênero e geracional, bem como novas relações com a mãe natureza”, afirma o documento.

Ato político-cultural 25 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás

Durante o dia “D” da Luta Internacional Camponesa, no dia 17 de abril, aconteceu o  Ato Político-Cultural Internacional em memória aos 25 anos do Massacre de Eldorado, de modo virtual, com tradução simultânea para o inglês, espanhol e francês.

Na ocasião, João Pedro Stédile, da Direção Nacional do MST, fez uma reflexão sobre o significado histórico do Massacre e de como o fato mudou o contexto da luta camponesa no mundo, unificando a luta camponesa no mundo.

João Pedro Stédile durante o Ato. Foto: Reprodução

Perla Álvarez Britez, representante da Via Campesina Internacional e da Coordenadoria Latino-Americana de Organizações do Campo (Cloc) e integrante da Conamure no Paraguai, relembou a brutalidade do Massacre de Eldorado do Carajás, um dos mais violentos contra os trabalhadores rurais, e ressaltou que nesses tempos difíceis, de crises e governos autoritários é muito importante a unidade entre os movimentos sociais camponeses da América Latina, em torno da Cloc e da Via Campesina.

“Que esse evento nos sirva como uma motivação para nos mantermos firmes, na resistência e no fortalecimento dos movimentos e na articulação para projetar o horizonte utópico socialista na América Latina. Viva a Luta Campesina e a memória de Eldorado do Carajás”, afirmou Perla.

Na ocasião do ato, de modo simultâneo, mais de 50 pontos de protesto, com bloqueios de pistas, ações simbólicas e doações de solidariedade foram mobilizados pela militância Sem Terra em 21 estados do Brasil.

Solidariedade salva vidas frente à um governo genocida

Em meio ao cenário, a solidariedade é a saída para mais da metade da população brasileira que não tem comida garantida na mesa; são quase 117 milhões sofrendo com insegurança alimentar e 19 milhões enfrentando fome severa. Só durante o primeiro ano da pandemia, em 2020, o MST já doou mais de 4 mil toneladas de alimentos e 700 mil marmitas para conter a volta da fome, partilhando sua colheita entre trabalhadoras(es) atingidas(os) pela crise alimentar que padece sobre o país.

Doações do acampamento Maila Sabrina. Foto: Lia Bianchini

Mesmo sofrendo com a paralisação da Reforma Agrária Popular brasileira e a falta de gestão do governo atual para com a agricultura familiar. Por meio de um balanço parcial das ações de solidariedade da Jornada de Lutas de Abril, que será atualizado ao longo deste mês, o MST em todo o seu conjunto já ultrapassou 100 toneladas de alimentos doados, mais de 16 mil marmitas e 50 mil litros de água distribuídos para a população vulnerável, em situação de rua e em regiões de secas.

Além disso, durante os 11 dias da jornada, houve doação de quase 3 mil litros de leite e entrega de 700 cestas básicas.

Em ação de doações de Agentes Populares de Saúde do movimento, as famílias atendidas receberam também kits totalizando 1,5 mil máscaras de proteção ao Covid-19. Houve reuniões em plenária nacional com outros movimentos, além do MST, que integram a campanha Periferia Viva Contra o Coronavírus para soluções coletivas que incidem sobre essa conjuntura.

Durante a jornada, o MST também firmou em conjunto a 30 grupos da sociedade civil brasileira e internacional, o manifesto ‘Não Podemos Esperar: Precisamos Respirar!’, que responsabiliza o governo federal pela escassez de kits de intubação e exige produção de oxigênio pelas empresas brasileiras frente ao desabastecimento de tais itens nas UTIs do Brasil.

Com o fim da Jornada de Lutas, o MST convoca a população e toda sua militância para à “Parada pela Vida”, incentivando medidas de cuidado e isolamento produtivo, seguindo uma política de enfrentamento das crises agravadas pelo Covid-19 e pelo desgoverno.

Nossos(as) mártires são sementes

Além das ações citadas, em alguns estados houve doações de sangue, recuperação de áreas degradadas e ações voluntárias dirigidas a hospitais. Seguindo o Plano Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis, que ousa plantar 100 milhões de árvores em 10 anos, foram homenageados os mártires com mutirões e plantios, com mais de 12,5 mil mudas plantadas e outras mais de 10 mil doadas.

Com as doações de sementes de milho – “Plante o milho de São João” serão doadas nos próximos meses mais de 200 kg de sementes de milho, para garantir o São João. A iniciativa também tem impulsionado à criação de hortas agroecológicos urbanas, compartilhando conhecimentos da subsistência do campo para à cidade.

JURA

Arte: Divulgação/JURA SP

Por conta da pandemia do novo coronavírus, a Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA) está sendo realizada de forma online este ano. Diversos debates estão sendo organizados em diferentes universidades, faculdades, escolas e centros de educação de todo o país, visando a promoção da agroecologia e a importância da Reforma Agrária Popular.

A JURA é realizada no mês de abril e foi lançada durante o Ato Político-Cultural Internacional em memória aos 25 anos do Massacre de Eldorado do Carajás. E em 2021 relembra o legado de Paulo Freire, com o lema “Lutas e resistências no campo e na cidade – Centenário Paulo Freire”.

As atividades também trazem debates em torno da desigualdade social e o desmonte acelerado das políticas públicas no Brasil, causados pelo atual governo, e discutem questões que envolvem a Reforma Agrária Popular nos espaços universitários.

 

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