Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

No dia 06 de abril de 2021, marcado por mais de 330.000 brasileiros mortos pela COVID-19, anunciou-se a partida de mais uma companheira de nossas lutas. Fátima Barros, liderança quilombola da Ilha de São Vicente, em Araguatins -TO, faleceu hoje, depois de uma batalha pela vida em mais um dos tantos hospitais desassistidos pelo Estado Brasileiro.  

Fátima era integrante da Articulação Nacional de Quilombos e do Movimento Quilombola do Maranhão, atuava em luta e celebração pela titulação dos territórios quilombolas e pelo fim do latifúndio e das cercas que matam e ameaçam povos e comunidades tradicionais diariamente. 

Segundo dados da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas - CONAQ, mais de 243 quilombolas foram mortos pela COVID-19 no Brasil. Um número que mostra a ineficácia do Estado no atendimento e políticas de saúde voltadas para populações quilombolas em uma pandemia global. 

"A relação que temos com nossa mãe natureza é sagrada e trazemos isso desde África. Colheitas virão. Não serão apenas dos povos tradicionais e originários, mas de todos os coletivos." Fátima Barros 

A Articulação das Pastorais do Campo emite Nota de pesar pela morte de Fátima Barros, acompanhe a seguir: 


NOTA DE SOLIDARIEDADE E INDIGNAÇÃO PELA MORTE DA LIDERANÇA QUILOMBOLA FÁTIMA BARROS

É com muita tristeza e indignação que a Articulação das Pastorais do campo recebe a notícia da morte da companheira Fátima Barros. Durante tantos anos, lutadora fiel junto aos povos quilombolas, perseguida pelo latifúndio e, hoje, morre por conta de uma contaminação que está sendo agravada pela política do governo Bolsonaro.

Fátima nasceu em Tocantins e, como sempre anunciou, nasceu numa terra marcada pela violência do latifúndio, mas também pela coragem dos povos. Terra da guerrilha do Araguaia, terra de dona Raimunda, quebradeira de coco, terra do padre Josimo.

A sua morte se junta às mais de 300 mil vidas ceifadas pela Covid, justamente no momento em que o Brasil se torna preocupação para todo o mundo, pelo grau de inércia e irresponsabilidade do Estado na condução do problema.

No entanto, assim como sangra cada uma das famílias brasileiras que sofrem diariamente suas perdas, nós também sangramos pela partida de uma mulher que transmitia tanta vida e coragem na luta contra as violências e injustiças. Sua voz continuará, eternamente, ecoando em nossas mentes, em nossos territórios, nos encontros da Teia dos Povos, nos batuques dos tambores de Crioula, nos quatro cantos desse nosso Brasil ainda ferido a ferro e fogo pelo racismo, pelo latifúndio e pelo Estado opressor.

Fátima, sabemos que você continua conosco! Seu Espírito e sua força estarão sempre a nos acompanhar, na presença dos ancestrais e das gerações que nos antecedem. E, aqui, do outro lado do caminho, continuaremos a sua luta, buscando reavivar, a cada dia, a sua esperança e luz. Obrigado, guerreira Bantu, pelo seu sorriso terno e sua voz potente, que tanto denunciou a morte e anunciou um Território Livre.

FÁTIMA BARROS PRESENTE! 

 

                                       Articulação das Pastorais do Campo 

06 de abril de 2021

 

Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

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