Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

A assinatura aconteceu nesta sexta-feira e envolveu 22 usinas do estado.  Porém, o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) não traz nenhum avanço real para mudar a vida dos trabalhadores rurais canavieiros

Como forma de mascarar ainda mais os impactos negativos da produção do etanol, as usinas de Pernambuco, através de uma iniciativa do governo de Pernambuco, assinaram, nesta sexta-feira, dia 3, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), para o cumprimento da NR 31 – norma que regula as relações de trabalho entre patrões e empregados, com o objetivo de “melhorar as condições do trabalho na cana-de-açúcar”. Ao todo, foram 22 usinas que assinaram o acordo, em conjunto com o Ministério Público do Trabalho.

 

A assinatura do TAC, em Pernambuco, aconteceu uma semana após o anúncio do acordo para a certificação da produção do etanol pelo Governo Lula com as usinas de todo o país. “A assinatura desses acordos se dão num contexto em que o mundo inteiro já abriu os olhos para os efeitos danosos do agronegócio, para os trabalhadores, para a agricultura, o meio ambiente, para a sociedade” avalia Plácido Junior, da Comissão Pastoral da Terra. Segundo Junior, até pouco tempo o etanol era encarado como a “salvação da lavoura”, mas todos já questionaram a viabilidade do setor. “Com a crise internacional e com a necessidade do setor de reconquistar o mercado, os usineiros precisam do aval do estado brasileiro – que sempre foi conivente com crimes cometidos pelas usinas – então, fazem todo tipo de acordo para mascarar os efeitos destrutivos da cana. Vendo sob essa ótica, o TAC é uma farsa”, complementou Plácido. Mesmo com todos os questionamentos feitos sobre os impactos negativos da produção do etanol e em meio a centenas de denúncias de utilização de mão de obra escrava e falta de pagamento de salários dos trabalhadores, o governador do estado, Eduardo campos, considerou ser a produção sucroalcooleira o setor do futuro.

 

Regularização das questões trabalhistas – A audiência, marcada pelo Ministério Público do Trabalho, discutiu problemas relacionados aos alojamentos, a água potável, o transporte dos trabalhadores e a utilização dos Equipamentos de Proteção Individual. Segundo Daniel Viegas, advogado dos trabalhadores rurais canavieiros, um outro elemento que tem preocupado os sindicatos e entidades de direitos humanos, é a autuação do Ministério Público do Trabalho em relação às casas precárias dos sitiantes.  De acordo com Daniel, a autuação do MPT não obriga as usinas a reformarem as casas e permitir a permanência dos trabalhadores do campo., o que acaba estimulando e aumentando os despejos das famílias do campo.

 

Casos emblemáticos de crimes cometidos pelas Usinas no último ano em Pernambuco

Julho de 2008 - Todas as 24 Usinas de cana-de-açúcar do estado de Pernambuco foram autuadas, pelo Ministério do Meio Ambiente, por cometerem crime ambiental.  As usinas foram multadas em R$ 5 milhões cada, somando um total de R$ 120 milhões. As usinas são responsáveis pela destruição da Mata Atlântica na região e contaminação dos cursos d\'água. Segundo a assessoria do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), além de não possuírem licenciamento ambiental para o plantio da cana, foi constatado, através das fiscalizações, que as usinas não respeitam as reservas legais – No caso do Nordeste, 20% das propriedades  - e estendem as plantações às Áreas de Preservação Permanente (APPs), inclusive nas margens dos rios.

Novembro de 2008 - Um total de 284 cortadores de cana foram encontrados em situação de escravidão, nas terras dos Engenhos Poço e Barra D’ouro, que fazem parte da Usina Vitória, na zona rural do município de Palmares - Zona da Mata Sul do estado. A propriedade pertence ao prefeito eleito da cidade, José Bartolomeu de Almeida Melo, conhecido como Beto da Usina. Ele negou a existência de trabalho escravo e disse que a denúncia do Ministério do Trabalho é motivada por questões políticas.

Fevereiro de 2009 - Auditores do Ministério do Trabalho e Emprego retiraram no dia 12 de fevereiro,  252 trabalhadores, dentre eles 27 menores, seis deles com menos de 16 anos, da Usina Cruangi S/A, no município de Aliança, em Pernambuco. Todos foram recrutados para o corte de cana e foram encontrados pelo Grupo Móvel de Erradicação do Trabalho Escravo sem as condições mínimas de trabalho exigidas por lei.

Março de 2009 - A Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Pernambuco (SRTE/PE) libertou 38 pessoas, entre elas um adolescente de 16 anos, que estavam submetidas a condição análoga à de escravos. Os trabalhadores colhiam cana no Engenho Liberdade, arrendado pela Usina Estreliana ao empregador Paulo Roberto Monte Barreto, localizado no município de Escada (PE). Os cortadores iniciavam sua jornada de trabalho às 3 horas da manhã, quando preparavam o almoço. Os alimentos eram comprados de um barracão do próprio engenho e o valor das compras era descontado diretamente dos salários dos funcionários.

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