Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

“Escolher a vida, ocupando a terra”

Somos 130 camponeses e camponesas e agentes pastorais convocados(as) pela CPT e reunidos(as) em Assembléia, de 25 a 28 de fevereiro de 2008, no município de Barra de São Miguel – Alagoas – Brasil.

Somos o povo da terra, organizado em acampamentos, posseiros e assentamentos, lutando pela Reforma Agrária e por uma vida digna, em sintonia com a Conferência dos Povos da Bacia do São Francisco e do Semiárido, em defesa da revitalização e contra a transposição do Velho Chico, que aconteceu em Sobradinho-BA nos mesmos dias que estávamos reunidos(as). Continuaremos nesta luta decididos mais do que nunca a “Escolher a Vida, Ocupando a Terra”; foi este o tema da nossa Assembléia.

Nestes dias fizemos a memória dos últimos “10 anos de sofrimento e de luta, que foram 10 anos de conquista da liberdade” para aqueles(as) que hoje estão assentados(as) e perspectivas de libertação dos(as) acampados(as). Temos terra, queremos terra para todos(as) os(as) nossos(as) companheiros(as) ainda acampados, queremos melhores condições de trabalho, de moradia, crédito imediato, assistência técnica e boa infraestrutura para fazer de nosso espaço um lugar bom para viver.

A luta do povo do Assentamento Flor do Bosque, de 1998 até hoje, é para nós a “luta-mãe”, inspiradora e mestra de muitas outras ações que realizamos nestes anos. Apreendemos muito nestes 10 anos; criamos entre nós laços de família, recriamos a classe camponesa alagoana, adquirimos coragem, teimosia e ousadia. Criamos o nosso modelo de vida e de organização, baseado na solidariedade, no companheirismo e na fraternidade.

Produzimos e comercializamos coletivamente nas Feiras Camponesas produtos de qualidade, fruto do nosso esforço e da nossa paixão e cuidado com a mãe-terra, mãe fecunda e generosa com os filhos e filhas.

Com firmeza nos contrapomos ao sistema produtivo capitalista – hoje denominado de agronegócio –, sistema perverso, porque é concentrador de terra, de recursos públicos e de tecnologia; sistema devastador do meio ambiente e que usa e abusa da mão-de-obra de muitos nossos companheiros(as) que caíram nas mãos de usineiros e empresários; casos de trabalho escravo nas usinas de Alagoas – a exemplos da Laginha e Santa Clotilde – divulgados nestes dias envergonham o país e nos deixam revoltados.

Impressionam a todos os dados recentes que apresentam o Bolsa Família – programa assistencialista que não modifica as velhas estruturas e tem o fim em sim mesmo – como a melhor distribuição de renda, em nosso Estado, maior do que a massa salarial paga pela indústria da cana a seus empregados. Isso comprova que a concentração da terra no Estado e o setor sucroalcooleiro não criaram aquele “progresso” social e econômico tão propagandeado.

Constatamos que o Estado brasileiro, com seus órgãos, poderes e aparatos burocráticos, que está à disposição da elite, é para nós um obstáculo no caminho da conquista dos nossos direitos de viver bem na terra. O Governo Lula continua à serviço do capital internacional, favorecendo o hidroagronegócio. É preciso multiplicar os assentamentos e implementar de fato uma profunda e ampla Reforma Agrária, favorecendo a agricultura familiar camponesa. O Estado brasileiro não pode continuar a serviço quase exclusivamente do agronegócio e dos usineiros; os recursos públicos não podem ser destinados quase unicamente ao setor agroindustrial exportador, deixando para nós as migalhas.

O dinheiro público desviado para os interesses pessoais de deputados oportunistas e corruptos do nosso Estado, poderia ter contribuído na melhoria de vida dos setores populares; são 280 milhões de reais desviados pelos deputados, recursos suficientes para construir 40 mil casas nas áreas de Reforma Agrária ou poderiam ter sido usados para desapropriar 40 mil hectares de terra e assentado nela 5.300 famílias.

Durante a Assembléia recebemos a notícia do episódio de violência praticado por fazendeiros e pistoleiros contra os trabalhadores em Piranhas; repudiamos esta truculência costumeira do latifúndio como também a maldosa forma da grande mídia noticiar o fato. Manifestamos nossa solidariedade aos trabalhadores feridos e suas famílias e exigimos uma punição exemplar para os responsáveis deste fato de violência.

A nossa luta vai continuar; uma delegação da nossa Assembléia participará, em abril, do acampamento em Brasília na ocasião do lançamento da “Campanha pelo Limite da Propriedade da Terra: Basta de Latifúndio”, está na hora de democratizar o acesso à terra.

Confiamos no Deus da Vida e da Terra,

10 ANOS DE LUTA, 10 ANOS DE LIBERDADE!

ESCOLHEREMOS SEMPRE A VIDA, OCUPANDO A TERRA.

Barra de São Miguel-AL, 28 de fevereiro de 2008.

Os(as) participantes da 19ª Assembléia da CPT de Alagoas

 

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