Em novembro de 1998, numa situação de total desamparo, mas de exemplar resistência, a camponesa Maria Francisca de Lima, indignada com a possibilidade de ser expulsa de seu sítio de meio hectare, no município de São Lourenço da Mata, pela poderosa Usina São José, procurou a Ordem dos Advogados de Pernambuco (OAB), a Comissão Pastoral da Terra e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (FETAPE) em busca de apoio e solidariedade.
A família de Maria Francisca foi uma das poucas que não aceitou a indenização e resistiu contra a truculência e ameaça do grupo econômico da usina. Com uma rápida medida judicial, conseguiu-se parar com os despejos que contavam com a conivência do Poder Judiciário local. Com isso, deu-se início ao ajuizamento de algumas ações de usucapião, como o caso da família da trabalhadora rural, que venceu em primeira instância, e aguarda a decisão confirmatória pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco.
Maria Francisca nos dá o exemplo de bravura, dignidade e cidadania, que parece aflorar com mais energia e ternura nos corações das mulheres. Essa trabalhadora rural liderou a defesa de sua família e da sua comunidade, no esforço de vencer a histórica violência imposta às mulheres camponesas desse país.
Através da luta da trabalhadora, os outros camponeses e camponesas conquistaram o direito de receber indenizações justas pelos danos suportados com a ação ilegal da Usina e dos Poderes Públicos. Maria Francisca resiste, ao lado de seu marido e de suas três filhas, na terra onde seus pais viveram, que como ela, sempre nos lembram que nunca foi dada por Deus aos Usineiros, mas concedida para que homens e as mulheres pudessem viver dignamente.
Depois de 10 anos, com seu sítio cada vez mais invadido por cana, Dona Maria Francisca ainda sofre com a truculência e ameaça do grupo Petribú que, apesar de possuir mais de 22 mil hectares e produzir 24 milhões de litros de álcool, continua pressionando, através de seus capangas e da queima da cana sem acero, a expulsão de sua família das terras. O último episódio aconteceu no dia 7 de fevereiro último.
O Vídeo mostra a destruição provocada pelas chamas da cana, que atingiram as plantações de alimento e chegaram bem próximas da casa da família de Maria Francisca. Também mostra a invasão do meio hectare de terra, em que vive a camponesa e sua família, por capangas armados da Usina, que apesar da violência, não conseguiram intimidar essa guerreira e sua filha, que conseguiu registrar as imagens dessa ação truculenta.