Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

No dia 20 de dezembro de 2007, o bispo de Barra (BA), frei Luiz Flávio Cappio, 62 anos, era retirado, de ambulância, desmaiado, da Capela São Francisco, em Sobradinho (BA), depois de uma greve de fome que durou 24 dias. Ele foi levado, por decisão da família, para ser atendido no Hospital Memorial de Petrolina (PE), a cerca de 50 quilômetros do local que escolheu para fazer do jejum e da oração uma forma de impedir a transposição do Rio São Francisco.

A reportagem é de Angela Lacerda e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 21-12-2008.

Um ano depois, ele avalia que sua ação teve total êxito, a despeito de o projeto estar em pleno andamento e o governo garantir recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para terminá-lo em 2012. “A história fará justiça e a verdade, ao seu tempo, vai aparecer”, confia ele, que não acredita que a transposição será concluída. “Comparo (o projeto) a um computador cheio de vírus - economicamente, socialmente, eticamente, juridicamente, ecologicamente falando.”

O bispo destaca a insensibilidade do governo, “que dá as costas às reais necessidades do seu povo”, em contraponto à repercussão mundial da luta contra a transposição, que o tem feito se dividir entre o trabalho missionário e convites para palestras e fóruns em países como Bélgica, Alemanha e Itália. “O mundo foi muito mais sensível do que o governo brasileiro.”

Em outubro, d. Cappio recebeu, em Sobradinho (BA), o prêmio da paz concedido pela Pax Christi, que congrega 54 países. No início do próximo ano, viaja a Alemanha para receber da Fundação Kant outro prêmio pela paz. Depois de duas greves de fome - a primeira foi de 11 dias, em 2005, em Cabrobó (PE) -, ele voltou a descartar uma terceira ação deste tipo. “O grito desesperador já foi dado, agora é preciso que os argumentos de razão sejam reconhecidos e valorizados.”

O bispo analisa que a greve de fome foi “um grito” dado em defesa da vida, com o objetivo de acordar as consciências no que diz respeito à verdade ética, ao cuidado com o meio ambiente e ao compromisso com os pobres. “Foi um grito em defesa da ética, pelo projeto estar baseado em uma mentira.” A greve, disse ele, foi também um grito em defesa dos pobres, do rio e seu ecossistema.

A luta contra a transposição se mantém firme, disse d. Cappio. Ela segue através de pesquisas em universidades, em várias obras editadas que aprofundam a discussão sobre o tema, e nas atividades de movimentos populares. Sobre as mudanças que percebeu em si mesmo depois da greve, ele disse ter sentido um crescimento pessoal grande. “Senti a dor da fome, o que me deu sensibilidade maior com os que passam fome.”

Atualmente, mais de mil homens, entre militares do Exército e civis contratados por empreiteiras, trabalham nas obras da transposição do Rio São Francisco. O projeto total está orçado em R$ 7 bilhões.

 

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