As águas do Rio São Francisco, em boa parte de seu médio curso, apresentam concentração de cianobactérias (algas azuis) duas vezes maior que o limite considerado normal pelo Ministério da Saúde. A constatação está no laudo parcial, divulgado ontem à tarde, das análises realizadas no Laboratório de Química da Universidade Federal da Bahia (Ufba), com amostras retiradas do rio nos municípios de Malhada, Serra do Ramalho, Carinhanha, Sítio do Mato, Paratinga e Bom Jesus da Lapa. As algas azuis modificam o gosto, a cor e o cheiro da água.
O resultado exige monitoramento semanal, com base na Portaria Federal nº 518/2004, do Ministério da Saúde, que prevê a adoção da medida sempre que a concentração de cianobactérias ultrapassar o limite de 10 mil células por mililitro (o laudo parcial das análises apontou concentração de 20 mil células por mililitro nas águas do “Velho Chico”). O monitoramento será articulado pelo Centro de Recursos Ambientais do estado(CRA).
Apesar da grande quantidade do microorganismo encontrada nas amostras, o CRA não indica a suspensão do consumo de pescado na região afetada pelo fenômeno. “Um dado tranqüilizador é que não foi verificada, até agora, nenhuma morte na fauna aquática da área atingida. Só reforçamos o pedido para que a população ribeirinha não consuma a água bruta de rio, orientação que, aliás, é dada sob qualquer circunstância em qualquer rio”, coloca a diretora geral do CRA, Beth Wagner.
A representante do Centro de Recursos Ambientais frisa ainda que a avaliação do laudo total, em cinco semanas, é que fornecerá um quadro mais completo acerca do problema. Além de articular o monitoramento da qualidade das águas para a avaliação do nível de concentração de cianobactérias – trabalho capaz de indicar a necessidade ou não de retirada do material – o órgão vai passar a fiscalizar o lançamento de efluentes no leito do São Francisco. “Vamos fazer um inventário de como, onde e o quê é lançado no rio. Isso requer um prazo maior e periodicidade”, prevê Beth Wagner.
As cianobactérias podem produzir gosto e odor desagradáveis na água e desequilibrar os ecossistemas aquáticos. Algumas liberam toxinas que não podem ser retiradas pelos sistemas de tratamento de água tradicionais e nem pela fervura. O aumento da matéria orgânica, provocado por despejo de esgoto ou de agrofertilizantes, por exemplo, favorece o crescimento do número de microorganismos decompositores livres, que consomem o oxigênio dissolvido na água e alimentam a atividade fotossintética das cianobactérias. A estiagem, que diminui a vazão das águas, também contribui com o fenômeno.
Novas amostras de água do Rio São Francisco foram colhidas esta semana nos municípios de Xique-xique e Barra, a mais de 200km ao norte de Paratinga, município limítrofe da faixa inicialmente afetada ao longo do curso d’água. As análises desse material ajudarão no mapeamento e avaliação do problema.
data:12/10/07
Fonte:Por Ciro Brigham, Correio da Bahia.