Nunca o país teve tantos estrangeiros com participação nos negócios de açúcar e álcool como hoje. Esse avanço ganhou fôlego maior em 2008 com a crise financeira global. Empresários e especialistas acreditam que o movimento está apenas no início e deve se manter acelerado nos próximosanos. O aumento da presença do capital internacional é visto como algo positivo. "As megaempresas que buscam parceiros locais trazem não só acesso a recursos baratos como novo conhecimento e um nível de profissionalização dos negócios que grupos brasileiros familiares desconhecem" , diz o diretor da consultoria Canaplan, Luiz Carlos Correa Carvalho.
– 09/11Andrea Guimarães, para o Valor, de São Paulo
De acordo com levantamento do Banco Central, de janeiro de 2007 a junho
deste ano, o Brasil recebeu mais de US$ 3,5 bilhões de investimentos
estrangeiros diretos para produção de derivados de petróleo e de
biocombustíveis. Segundo a instituição, a maior parte dos recursos - cerca
de US$ 3,1 bilhões, ou 90% do total - foi aplicada em investimentos na
indústria do etanol.
Pesquisa sobre fusões e aquisições da KPMG Corporate Finance mostra que, de
2000 a setembro deste ano, o setor de açúcar e álcool registrou 99 fusões e
aquisições envolvendo empresas brasileiras. Apenas nos últimos três anos,
foram 45, sendo 22 negócios de empresas de capital estrangeiro adquirindo
unidades de origem nacional localizadas no país.
Segundo levantamento do Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool e
Açúcar de Minas Gerais, a taxa de participação das empresas estrangeiras no
total da cana-de-açúcar processada passou de cerca de 1% no início da década
para 12% na safra 2007/2008. A expansão mais forte se deu nos últimos três
anos, com destaque para o intervalo entre o segundo semestre de 2007 e o ano
de 2008. Além disso, 23% das companhias brasileiras já possuem em sua
estrutura corporativa a presença de executivos estrangeiros, que representam
grupos internacionais parceiros.
Levantamento divulgado neste mês pela PricewaterhouseCoop
450 usinas existentes no país são controladas por 160 companhias -
brasileiras e internacionais. A participação estrangeira nos negócios do
setor - por meio de parcerias ou controle da operação - atinge 15%. A taxa
era de 12% há quatro anos, informa a consultoria.
Para Bruno Melcher, presidente da LDC-SEV, empresa que acaba de ser criada
pela associação da Louis Dreyfus Commodities no Brasil e Santelisa Vale, a
indústria do etanol é global e não regional. "Ela atende mercados com
players espalhados por todo o mundo. As empresas precisam se preparar para
competir conscientes desse quadro de competição acirrada mundial", diz. De
origem francesa, a companhia uniu-se à brasileira Santelisa Vale em outubro
e possui um agressivo plano de expansão, apoiado pela injeção de R$ 800
milhões realizada pelos investidores financeiros no novo grupo.
De acordo com especialistas, a postura da LDC-SEV está em linha com o
movimento de consolidação do setor. O Brasil é a bola da vez nesse
processo", diz Plínio Nastari, sócio da consultoria Datagro. Cerca de 16,5%
da produção de cana no Brasil sai de empresas de capital internacional,
sendo que há cinco anos, esse número chegava a 6%. "Acredito que daqui a
cinco anos essa taxa deve variar de 25% a 30%", afirma Nastari.
O cenário econômico favorece a chegada de mais empresas no país. O preço da
energia no mundo está alta e há uma expansão na escala e queda nos custos de
produção, que favorece a rentabilidade da operação", afirma Correa Carvalho,
da Canaplan. "Os grandes conglomerados internacionais precisam aproveitar
esse novo momento e estão atrás de ativos baratos", completa.
Segundo os consultores, grupos estrangeiros como Bunge, Cargill, ADM e Geres
estão analisando a aquisição ou fusão com usinas brasileiras que tiveram
recentes dificuldades de crédito.