Comissão Pastoral da Terra Nordeste II

 

Jovens camponeses da zona da mata, agreste e sertão do estado ocupam a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) desde o dia 11/04 para estudar, refletir e debater sobre os principais desafios da juventude no campo e suas formas de resistência. São mais de 60 jovens, oriundos de 14 áreas de conflitos agrários no estado, que participam da atividade correspondente ao IV módulo do curso de formação Residência Agrária: Juventude Camponesa: agroecologia e educomunicação.

 

 

Até amanhã (15/04), os jovens estarão nas dependências da universidade debatendo sobre vários temas, entre eles: juventude camponesa e Resistência Agrária; O projeto do capital para a Juventude; Estratégias de Resistência da Juventude Camponesa, através de iniciativas como agrofloresta, agroecologia; organização política, produção e comercialização, formação de grupos culturais; Desafios da Juventude Camponesa e sua relação com o feminismo, juventude negra, sexualidade e educação universitária.

 

No dia 11/04, durante a mesa de abertura do evento, estiveram presentes a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a Pastoral da Juventude Rural (PJR), a Pró-Reitora de Extensão, Maria Christina, o professor de geografia e coordenador do curso, Claudio Gonçalves, a coordenador do curso de geografia, Ruy Pordeus e Priscila Martinelli, do Pronera/Incra.

 

Na ocasião, Plácido Júnior, da CPT ressaltou que o curso reúne jovens de várias realidades distintas, porém todos/as filhos e filhas de homens e mulheres que dedicaram suas vida à luta pela terra e resistência nos territórios. "Os jovens tem muito a ensinar neste espaço da universidade, do que aprender", ressaltou. Por isso, apesar dos debates e reflexões contarem com a participação de professores/as e pesquisadores/as da Universidade, os jovens tomaram para si a responsabilidade de contribuir com a formação da turma. Esta sendo através da partilha das experiências de vida e das histórias de lutas de suas comunidades que os jovens partem para a reflexão sobre a questão agrária e os desafios da juventude na atualidade.

 

 

A jovem Edyna Maria, da comunidade Barra do Dia, localizada em Palmares, participou da mesa Juventude e Resistência Agrária, realizada na segunda-feira, dia 11. Para a Edyna, foi um momento desafiador. "Quando me convidaram para falar durante a mesa, pensei logo que eu não seria capaz, mas consegui. Eu sou capaz. Passei a mensagem aos jovens de que o mundo tem preconceito contra as populações do campo, mas precisamos, antes de tudo, quebrar os nossos preconceitos e nos aceitar. Aceitar e valorizar a nossa identidade camponesa para depois quebrar o preconceito geral", afirma.

 

 

"Está sendo riquíssimo esse momento em que os jovens estão ocupando o espaço acadêmico, a universidade. Um espaço, que por toda a vida foi dominado pelos filhos e filhas dos Senhores de Engenho, das elites, hoje está sendo ocupado pelos filhos/as dos/as assentados/as, dos/as quilombolas/as. Estão ocupando as salas, as praças da Universidade. Nesse processo, importante também destacar o diálogo muito positivo entre os jovens do campo com os jovens da cidade que estudam universidade", ressaltou Renata Érica, da CPT e uma das coordenadoras do curso.

 

Além dos debates, os jovens já realizaram visitas ao Museu Cais do Sertão e intercâmbios em áreas de experiências agroecológicas. Os jovens também integram as atividades da Jornada Universitária pela Reforma Agrária, que ocorre na UFPE durante esta semana.

 

Para o coordenador do curso e professor de geografia da UFPE, Claudio Gonçalves, experiências como estas permitem a universidade, nas suas diferentes instâncias, perceber que é necessário não somente preparar profissionalmente a juventude mas, além disso, aprofundar a formação humanista voltada para os valores da afetividade, solidariedade, espírito de cooperação e leitura política sobre o território.

 

Sobre o curso:

 

O curso "Juventude Camponesa: agroecologia e educomunicação" é realizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Espaço Agrário e Campesinato (Lepec) vinculado ao Departamento de Geografia da UFPE. O curso conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA/INCRA).

 

Iniciado em janeiro de 2015, a formação funciona através da pedagogia da alternância e utiliza meios de comunicação diversos como ferramentas para o aprendizado das temáticas. Durante os períodos em que estão todos reunidos nos chamados módulos do Tempo Escola, os jovens dedicam-se ao estudo sobre o contexto agrário e as formas de resistência dos povos do campo. Os/as participantes já estudaram e debateram sobre a história das lutas camponesas no Brasil, o conceito de campesinato, de território, a atualidade da questão agrária no país, o modo de produção camponês, agroecologia e modo de produção capitalista. Até o momento, já foram realizados três Tempos Escolas, sendo este o primeiro a ser realizado na Universidade Federal de Pernambuco. O curso está previsto para se encerrar no final de 2016.

 

Durante o tempo em que estão nas comunidades, os jovens realizam diversas atividades de estudos e leituras. Os participantes também organizam diversos encontros de intercâmbios, troca de experiências entre comunidades, reuniões de debates e formação, além de atividades que fortalecem a organização da juventude e da comunidade. Desde que o curso foi iniciado, vários jovens passaram a se organizar em grupos no intuito de fortalecer as práticas de produção camponesa desenvolvidas por suas famílias. Para os agentes pastorais de CPT que acompanham as atividades, este é um dos fatores mais importantes do processo: quando a juventude camponesa assume o papel de protagonista na organização não somente de grupos de jovens, mas também da comunidade inteira; quando tomam para si a responsabilidade de transformar a realidade de conflitos junto com os demais membros da comunidade.

 

Além de discutir as temáticas relacionadas à questão agrária, os jovens também se dedicaram a estudar os mecanismos de constituição discursiva dos meios de comunicação de massa sobre as lutas camponesas. Mas não só isso, durante o curso, os jovens também se apropriam de ferramentas midiáticas para dar visibilidade ao modo de produção camponês e denunciar os crimes praticados contra as populações em seus territórios.

 

 

Imagens: Renata Albuquerque/CPT NE 2

 


 

 

 

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